A Terceira Margem – Parte III

O Despertar de um Canoeiro  

Inimigo na Trincheira

CPOR/PA (1986) – Penas Brancas

Pena Branca

A “Ordem da Pena Branca” foi criada no início da Primeira Guerra Mundial com o objetivo forçar os cidadãos ingleses a se alistarem no Exército. A Ordem persuadia as mulheres a presentear com uma pena branca aqueles que não estivessem envergando um uniforme militar. A pena branca foi adotada como símbolo de covardia pelo exército britânico desde o século XVIII. Este símbolo nasceu da crença de que os galos-de-rinha que apresentassem uma pena branca na sua cauda seriam perdedores natos, lutadores medíocres e de que uma raça pura de galos-de-rinha não portaria, jamais, nas suas caudas as famigeradas penas brancas, demonstrando com isso pertencer a uma raça superior e aguerrida de galináceos.

Pena Branca

Nos idos de agosto de 1914, primórdios da Primeira Guerra Mundial, o Vice-Almirante Charles Cooper Penrose-Fitzgerald (1841 – 1921) fundou a “Ordem da Pena Branca” com o apoio do grande escritor e jornalista inglês Thomas Humphry Ward (1845 – 1926). Fitzgerald organizou um grupo de trinta mulheres em Folkestone para distribuir penas brancas aos homens adultos em trajes civis. O fato repercutiu bombasticamente na mídia e rapidamente alastrou-se pelo país e pelas demais nações do Império Britânico. O secretário do Interior, Reginald McKenna (1863 ‒ 1943), preocupado com injustiças e a possibilidade dos servidores públicos e empregados das indústrias estatais virem-se constrangidos a se alistar, criou um distintivo, com o dístico “King and Country” e “On War Service” para indicar que eles também estavam servindo o esforço de guerra.

Da mesma forma, a partir de setembro de 1916, foi criada a insígnia “Silver War Badge”, para ser usada pelos combatentes que tinham sido dispensados em decorrência de ferimentos ou doenças evitando possíveis constrangimentos aos veteranos de guerra. A campanha das penas brancas foi novamente retomada durante a Segunda Guerra Mundial. A Ordem inspirou o filme “The Four Feathers” cujas versões foram exibidas em 1921, 1929, 1939 e 2000.

The Four Feathers

The Four Feathers

Inspirado no clássico romance de Alfred Edward Woodley Mason, o filme começa em 1875, dez anos antes da queda de Khartoum pelas mãos dos guerreiros de Mahdi. Esta é a extraordinária história das corajosas tropas de reforço incumbidas de acabar com a revolta em Khartoum, ressaltando o orgulho daqueles jovens soldados assim como sua vulnerabilidade perante um inimigo que não temia a morte. A história do filme é sobre Harry Feversham, admirado por seus camaradas como um dos melhores soldados de seu regimento.

Apaixonadamente devotado à sua linda futura esposa, Ethne, Harry tem um futuro promissor como militar e uma vida feliz o aguarda ao lado da mulher que ama. Mas quando um exército de rebeldes sudaneses ataca uma fortaleza colonial britânica em Khartoum e seu regimento é enviado para o Norte da África, Harry se vê dominado por inseguranças e incertezas e renuncia à carreira quando seu regimento embarca para a guerra. Chocado pela atitude de seu filho, o pai de Harry o repudia. Assumindo que ele tem medo, três dos amigos de Harry ‒ e até mesmo sua noiva Ethne ‒ lhe enviam cada um uma pena branca, um símbolo de covardia, já que ninguém consegue entender o que ele fez. (www.nostalgiabr.com)

As Cores no Idiomatismo

White featcher”, pena branca, é o símbolo da covardia. Provém da lenda de que uma pena branca na cauda de um galo de briga é sinal de degenerescência e fraqueza. (SILVA)

Ideais Traídos

Generais do “complot” Geisel, depois dos acontecimentos de 12.10.1977, começaram a receber, por certo tempo, envelopes com “penas brancas”, correspondência que visava a acusá-los de traidores. (FROTA)

Apenas uma Singela Pena Branca

Neste caso são traidores. Mais provavelmente o fazem por covardia, escudando-se, em nome da disciplina, numa distorcida lealdade que deveria ser primeiro para com a Pátria. Para estes ofereço simbolicamente uma pena branca. Eles sabem o que isto significa. (FREGAPANI)

Um Pôster na Latrina

Como vimos, nos parágrafos anteriores, desde o século XVIII, as penas brancas representam qualquer ato covarde, espúrio, inconfesso, daqueles que na surdina, acobertados pelo anonimato atentam contra a honra e a dignidade de um camarada ou de toda uma coletividade. Eu cumpria minha punição quando o Comandante do CPOR/PA nos repassou um quadro com a fotografia da Companhia de Engenharia de Combate ‒ comandada pelo Capitão Eng “OJF”, para ser fixada nas instalações do Curso de Engenharia. Foi então que surgiu a ideia das “Quatro Penas”. O Sargento Lima criava galinhas em casa e trouxe quatro belas e alvas penas que eu e três de meus subordinados fixamos no quadro do “companheiro” que o ST Deocildo remeteu pelo correio.

O “bochincho” estava formado, o quadro retornou e o Comandante do CPOR/PA, indignado determinou que eu fixasse-o nas instalações do Curso de Engenharia. Ordem dada, ordem cumprida, consultei meus comandados e fixamos, com toda a “pompa e circunstância”, o quadro enviado gentilmente pelo “companheiro Fulano” na entrada da latrina dos alunos.

Como podem notar nada de muito sério para que “o colega de turma”, que acendeu ao mais alto posto na hierarquia militar, guarde tanto rancor até hoje. O “sangue nas guelras” do Capitão de antanho parece irracionalmente ter-se irradiado para o cérebro inibindo-lhe o discernimento e o bom-senso que deveria caracterizar alguém que ocupou cargos de tanta relevância.

On War Service

Bibliografia

FREGAPANI, Gélio. Orgulho e Vergonha ‒ Brasil ‒ Porto Alegre, RS ‒ Defesa Net, 2011.

FROTA, Sylvio. Ideais Traídos ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Jorge Zahar Editor, 2006.

SILVA A. Casemiro da. As Cores no Idiomatismo ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Correio da Manhã, 30.05.1950.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 20.07.2020 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;     

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

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