Yanomami temem “ciclo de violência” após assassinato de dois indígenas por garimpeiros em Roraima

A Hutukara Associação Yanomami exige que as mortes sejam investigadas “com rigor” e cobra urgência do Estado brasileiro para a retirada dos garimpeiros da Terra Indígena

Yanomami em fileira durante encontro de lideranças Yanomami e Yek’wana, em novembro de 2019|Victor Moriyama/ISA

A Hutukara Associação Yanomami denunciou em comunicado, nesta sexta-feira (26/06), o assassinato de dois indígenas Yanomami por um grupo de garimpeiros armados na região do Parima, Roraima. Os Yanomami sofrem há décadas com a invasão do garimpo ilegal às suas terras e conflitos entre indígenas e garimpeiros são frequentes. Calcula-se que mais de 20 mil garimpeiros estejam neste momento dentro da Terra Indígena Yanomami.

Segundo depoimento, traduzido no documento, na primeira quinzena de junho um grupo de Yanomami encontrou garimpeiros e pediu alimentos, nas proximidades da comunidade Xaruna. Ao não receber a quantia que queriam, entraram em confronto com os garimpeiros — armados, eles teriam matado a tiros os dois Yanomami.

Avanço do garimpo na Terra Indígena Yanomami (comparativo 2016/2020)|MapBiomas/Imagens Planet

Para além da investigação do caso, escreve a Hutukara, é necessário que as autoridades ajam o quanto antes frente à iminência de um conflito de maior escala. “Tememos que os familiares dos Yanomami assassinados decidam retaliar contra os garimpeiros, seguindo o sistema de Justiça da cultura Yanomami”, o que pode gerar, segundo a Hutukara, um “ciclo de violência que resultará numa tragédia”.

O documento lembra que, em 1993, 16 indígenas da comunidade de Haximu foram assassinados por garimpeiros, no que ficou conhecido como o “Massacre de Haximu” — o primeiro caso de genocídio reconhecido pela Justiça Brasileira. “O relato descreve uma forma de relação entre os Yanomami e os garimpeiros que já conhecemos e é recorrente desde o início da invasão do território Yanomami na década de 1980 por mais de 40 mil garimpeiros”, disse a organização.

A Hutukara exige que as mortes dos dois Yanomami sejam investigadas “com rigor”, e cobra urgência do Estado brasileiro para a retirada imediata de “todos os garimpeiros que exploram a Terra Yanomami ilegalmente assediando e agredindo as comunidades indígenas que ali vivem”.

Com o avanço da pandemia de Covid-19, a Hutukara, com o Fórum de Lideranças Yanomami e Yek’wana à frente e em parceria com diversas organizações nacionais e internacionais, lançou a campanha “Fora, Garimpo! Fora, Covid”, que reúne quase 300 mil assinaturas pela retirada imediata dos garimpeiros da Terra Indígena Yanomami. Em 16 de junho, a Hutukara e o Conselho Nacional dos Direitos Humanos(CNDH) entraram com um pedido de medida cautelar na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão que faz parte da Organização dos Estados Americanos (OEA). A medida tem o intuito de pressionar o governo brasileiro a tomar medidas concretas para proteger os Yanomami.

Fonte: ISA

PUBLICADO EM:   AMAZÔNIA.ORG.BR

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