Uma equipe de pesquisadores do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD – Amazônia 2018) esteve de 19 a 25 de fevereiro de 2020 em diversas comunidades do Baixo Rio Branco (RR) desenvolvendo estudos com foco na cartografia social da região.
A primeira comunidade estudada foi Canauiní, localizada a 361 km de Vista Alegre (RR), comunidade vizinha de Caracaraí (RR), ponto de saída da equipe de pesquisa em direção ao Baixo Rio Branco. Canauiní fica às margens do paraná do Amajaú, onde residem em torno de 35 famílias. A equipe também esteve em Cachoeirinha, Sacaí e Santa Maria do Boiaçu.
Como em algumas comunidades, os ribeirinhos de Canauiní, na temporada de verão, dedicam-se ao turismo, no qual são contratados piloteiros, guias e ajudantes de cozinha, mão de obra local contratada por empresas externas e recebem um valor compensatório pela prática da pesca esportiva. Também praticam o extrativismo da castanha e açaí, além do cultivo da mandioca para a produção de farinha. Fazem uso do cipó para objetos de uso diário e artesanato. As dificuldades são muitas e estão atreladas, sobretudo, às questões de saúde. Há um agente de saúde que atende a comunidade, cuja função consiste em orientar os moradores e distribuir cápsulas de cloro (hipoclorito de sódio) para limpar a água consumida do rio e dos poços artesianos. A coleta de lixo é feita pelos moradores que normalmente o queimam ou o enterram. A queima gera dióxido de carbono que é prejudicial à saúde.
O coordenador da expedição, professor Antonio Veras, do Instituto de Geociências (IGEO/UFRR), explica que o objetivo da expedição é buscar mais conhecimento em áreas que são fundamentais para a compreensão da dinâmica do rio e a relação do morador com seu entorno, considerando a dimensão econômica, ambiental, social e cultural.
Segundo professor Veras, foram aplicados questionários socioeconômicos na vila com o objetivo de identificar as potencialidades e mapear os problemas sociais enfrentados pelos moradores. Além disso, a equipe fez entrevistas e anotações de campo que servirão a futuros relatórios e diagnósticos para alimentar o banco de dados do PROCAD. “Alguns pesquisadores se concentraram na economia ribeirinha. Queremos saber como esta economia está atrelada à potencialidade hídrica. Pouco se sabe sobre esta realidade. Os alunos da UERR pesquisaram sobre os arranjos produtivos locais, como agricultura, pesca, turismo, entre outros. Anotamos também as demandas de saneamento básico. Temos um geólogo que contribuiu para as observações em relação a dinâmica do rio”, disse.
Professor Veras ainda destacou a importância do Programa de pós-graduação em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos (ProfÁgua/UFRR), do qual faz parte. “A expedição teve o interesse de perceber como estas comunidades são abastecidas, se há água potável ou não, como é a qualidade da água e como é a gestão deste recurso. Há este cunho interdisciplinar. Acreditamos que ao final teremos conteúdo para subsidiar políticas públicas sobre o ordenamento territorial, objetivo elencado no âmbito do PROCAD”, assinalou Veras.
Para o professor e geólogo Vladimir Souza, do IGEO/UFRR, o Branco é um rio emblemático na história de Roraima. É a principal bacia que drena a água de quase todas as serras, sendo seu destino final o rio Negro. “É importante que a UFRR continue a dar atenção ao PROCAD e ao ProfÁgua para conhecermos melhor a dinâmica deste rio tão importante para nós, sobretudo, a porção do Baixo Rio Branco que quase não têm pesquisas sobre os recursos hídricos. Podemos chamar de terceiro pantanal brasileiro, com suas inúmeras lagoas, rios entrelaçados, a riqueza fenomenal paisagística, científica e natural que não conhecemos. É importante esta inserção pelas expedições que temos feito porque vamos descobrindo coisas novas, como seu potencial arqueológico e a diversidade de águas que tem no Baixo Rio Branco”, destacou.
O professor Rubens Savaris, integrante da expedição, explica que a pesquisa brasileira atualmente tem uma deficiência de recursos, fato que inviabiliza qualquer ação científica deste porte, por isso, se faz necessária uma boa articulação para montar a estrutura de logística. “Exige tempo e trabalho para conseguirmos fazer uma viagem ao Baixo Rio Branco. Tivemos bons apoiadores. Conhecemos um pouco mais das comunidades ribeirinhas, a realidade deles, a maneira como eles vivem, o que movimenta a economia, o que mantem aquelas pessoas das comunidades”, assinalou.
Esta terceira expedição teve o apoio logístico da Receita Federal; do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); da Pró-reitoria de Extensão, Rádio e TV Universitária (RTU/UFRR); da Reitoria da UFRR e “uma parceria produtiva com a UERR”, ressaltou o coordenador, professor Veras.
Cartografia – A cartografia social é o instrumento que permite a participação da comunidade no desenho de mapas dos territórios que ocupam, trazendo a percepção das várias unidades de uso da terra. No Baixo Rio Branco há territórios em intersecção compreendidos pela cartografia social. São territórios que estão em uso comum por duas ou mais comunidades. Esta é uma constatação recorrente em comunidades ribeirinhas e povos indígenas.
Com este trabalho, percebeu-se preliminarmente que, o trabalho extrativista de comunidades localizadas no extremo sul, avança para o sentido norte, chegando em outros territórios, fato podem gerar conflitos. É o caso de moradores de Sacaí e Canauiní que vão até a localidade de Santa Maria do Boiaçu para fazer o uso da terra, com o extrativismo do açaí ou da castanha. Na perspectiva econômica, a equipe aponta que é necessário um estudo diagnóstico para se propor um planejamento socioambiental voltado para os arranjos produtivos locais, que é o desenvolvimento local dentro da cultura das comunidades, propondo a produção na escala de subsistência ou na média ou alta escala.
Gilcimar Maizonave, 32 anos, é estudante do sétimo semestre do curso de licenciatura em Geografia da UERR e atua no laboratório de Planejamento Socioambiental e Cartografia Social (LAPLAC/UERR). Ele diz que a cartografia vai permitir as comunidades a saber de fato as formas que eles trabalham, os lugares em que pescam e produzem, trazendo um empoderamento aos moradores. “Após este trabalho de campo, vamos fazer o trabalho técnico no laboratório na produção dos mapas, depois devolveremos às comunidades os produtos gerados”, destacou.
O estudante de Geografia, Gean Guilherme de Paula, 20 anos, também membro do LAPLAC fala que o trabalho em laboratório vai permitir a tabulação dos dados, dos questionários e das entrevistas, redação dos textos, a montagem dos gráficos e mapas, sistematizando as informações, incluindo a produção de artigos e outras publicações.
PROCAD – O PROCAD/Amazônia é resultado do edital de fomento à pesquisa lançado em 2018 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Vários projetos de interesse em estudos amazônicos foram contemplados. A UFRR, a UNIR e UFC submeteram o projeto sob título: ‘Estratégias de Ordenamento Territorial em Comunidades de Interesse Socioambiental na Amazônia’, conseguindo a aprovação.
Para outras informações: Vídeo | Facebook
Contato: 98101.6363 (Prof. Antonio Veras) – Textos: Éder Rodrigues – Fotografias: Roberto Carlos Caleffi – FONTE: UFRR