Garimpeiros acusam Vale de extrair minério em Serra Pelada; Vale nega

Bispo católico prega ‘não’ à mineração e grandes obras na Amazônia.

Um grupo de garimpeiros da região de Serra Pelada acusa a empresa Vale do Rio Doce de supostamente invadir a sua propriedade através de túneis subterrâneos com o objetivo de extrair minérios e vender para fora do País sem prestar contas ao governo. Nesta terça-feira, representantes da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) pediram pessoalmente ao presidente Jair Bolsonaro por uma intervenção das Forças Armadas no local.

“Esta área pertence aos garimpeiros. A companhia Vale do Rio Doce recebeu US$ 70 milhões para sair de lá. Só que ela saiu, mas está bem do lado, fazendo um buraco que se chama Projeto Serra Leste, está mandando para fora do Brasil falando que é ferro, só que ela está levando é ouro e não está sendo prestado conta”, disse o líder da Coomigasp, Jonas Andrade.

Segundo Jonas, a Vale estaria colocando terra em vagões de trens para levar minérios ilegalmente até o porto e depois enviá-los para a China. “Por isso que nós estamos pedindo ao Exército Brasileiro a demarcação de nossa terra, porque a Vale pode estar dentro de nossa terra através de túneis para tirar o nosso minério”, justificou.

Ao conversar pessoalmente com o grupo de garimpeiros, o presidente Jair Bolsonaro criticou a Vale do Rio Doce por ter, na visão dele, “abocanhado” o direito mineral no Brasil no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no final da década de 1990. Durante o encontro, Bolsonaro prometeu que, se houver amparo legal, vai enviar as Forças Armadas para atuar na região.

“Esse é um país que é roubado há 500 anos. A gente conhece o potencial mineral do Brasil. Eu sei como a Vale do Rio Doce abocanhou, no governo FHC, o direito mineral no Brasil. Um crime, um crime o que aconteceu”, disse o presidente.

Ele também afirmou que é uma “covardia” o que fazem com garimpeiros e insinuou que há pessoas que pagam propina para encobrir ilegalidades. “Está aí o mundo falando e muitas vezes criticando garimpeiros. É uma covardia que fazem com o meio ambiente de vários países do mundo. Faz aqui dentro do Brasil, ninguém toca no assunto porque a propina, pelo que parece, corre solta.”

Outro lado  

Por meio de nota, a Vale afirmou que “não tem atividades minerárias em Serra Pelada nem qualquer operação de mineração subterrânea no Pará”. “A empresa cedeu a área de jazida à Coomigasp (Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada) em março de 2007. A empresa mantém no município de Curionópolis apenas a unidade Serra Leste, de exploração exclusiva de minério de ferro”, diz a nota.

Bispo católico prega ‘não’ à mineração e grandes obras na Amazônia  

Numa prévia de como o clero se posicionará no Sínodo da Amazônia, o bispo de Marajó (PA), d. Evaristo Pascoal Spengler, integrante da comitiva do Brasil que viaja ao Vaticano na próxima semana para a assembleia especial com o papa Francisco, manifestou nesta terça-feira, 1.º de outubro, um pedido de rechaço à mineração e a grandes obras na região, o que vai contra planos do governo do presidente Jair Bolsonaro.  

Evaristo cobrou, em audiência na Câmara, a “suspensão imediata da implementação de megaprojetos que agridem o bioma da Amazônia”. “Queremos pedir um não a projeto de mineração em territórios indígenas, não ao garimpo legal e ilegal na Amazônia, não à regularização de novos garimpos. Não às rodovias, ferrovias e hidrelétricas que destroem o meio ambiente Nenhum grande projeto pode ser implantando sem a consulta prévia, livre e informada.”

Mais cedo, Bolsonaro, que já admitiu monitorar a preparação do sínodo por suspeita de ameaças à soberania brasileira, conversou com um grupo de garimpeiros em frente ao Palácio do Planalto e criticou o interesse estrangeiro na floresta. “O interesse na Amazônia não é no índio e nem na p… da árvore, é no minério”, afirmou.

Ele cogitou mobilizar as Forças Armadas para assegurar a possibilidade de exploração mineral na região de Serra Pelada, a cerca de 2,2 mil quilômetros de Belém, no sul do Pará.

Além disso, a administração federal prepara na Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República o programa Barão do Rio Branco, que inclui a construção da Ponte de Óbidos, sobre o Rio Amazonas, de uma hidrelétrica no Rio Trombetas (PA) e a expansão da Rodovia BR-163.

A Igreja Católica nega ser a favor da internacionalização da Amazônia. O bispo de Marajó afirmou que a Igreja conhece bem a região porque “mergulhou na Amazônia” e que os missionários “chegam aonde o Estado não chega”. D. Evaristo voltou a dizer que as lideranças católicas que defendem Direitos Humanos e da terra são “criminalizadas e tratadas como inimigos da Pátria” – uma referência a críticas feitas por integrantes da gestão federal ao sínodo e os documentos preparatórios. “Há uma inversão total de valores”, reclamou.

Evaristo anunciou que a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançarão logo após a assembleia uma campanha por mais proteção aos defensores. O clérigo pediu que a Câmara “se empenhe e reforce o programa de proteção a defensoras e defensores de Direitos Humanos, socioambientais e indígenas, hoje ameaçados de morte por sua luta”.

“Esses defensores de direitos confrontam com grupos econômicos poderosos que violam normas do Direito Nacional e Internacional. Para garantir seus objetivos, esses não têm escrúpulo em eliminar vidas quando cruzam seus interesses”, denunciou. “É imprescindível, para manter a floresta em pé e a vida dos povos preservada, que suas lideranças e comunidades ameaçadas estejam efetivamente protegidas de todo tipo de violência e ameaça que hoje estão sofrendo.”

A Igreja também solicitou a criação de políticas públicas de financiamento de iniciativas econômicas que valorizem o projeto socioambiental em detrimento de “projetos de exploração predatória”. “Há necessidade de criar linhas de financiamento público para que as comunidades tradicionais e os povos indígenas possam desenvolver seus meios de vida, garantindo a floresta em pé. Até hoje, só acontece financiamento público para projetos predatórios e pessoas que não são da Amazônia. Nessa perspectiva, também é muito importante que se invista em políticas públicas para valorização dos produtos que mantenham a floresta em pé e que possam ter efetivamente a preservação da própria identidade, até com patente dos produtos da Amazônia. Se não os japoneses vão patenteá-los.”

Estadão Conteúdo.

FONTE: JORNAL DE BRASÍLIA

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