Cardeal peruano defende agenda do Sínodo amazônico após ataques de Müller e Brandmüller

Um importante cardeal sul-americano defende a agenda da próxima reunião de bispos católicos da região amazônica, em outubro, depois que dois cardeais europeus aposentados alegaram publicamente que isto desrespeita os ensinamentos da Igreja.

O cardeal Pedro Barreto Jimeno, arcebispo de Huancayo, no centro-sul do Peru, diz que o instrumento de trabalho agenda, que levanta a possibilidade de ordenar homens casados idosos como sacerdotes em áreas rurais com necessidades pastorais, “expressa amplamente os sentimentos e desejos de muitos representantes do povo da Amazônia.”

Em um artigo publicado na revista jesuíta italiana La Civiltà Cattolica em 18 de julho, Barreto também afirma que o instrumento de trabalho, divulgado em 17 de junho, é fruto de consulta a quase 90.000 pessoas nos dois anos de preparação para o encontro, conhecido como Sínodo e que será realizado no Vaticano de 6 a 27 de outubro.

Barreto descreve o processo de consulta como uma “experiência sem precedentes” para um sínodo, e diz que “dá uma boa conta do que está acontecendo nesta região”.

“Acreditamos que a expressão dessa riqueza trará, acima de qualquer suspeita, elementos para uma melhor compreensão de uma realidade que está clamando por atenção”, ele escreve.

Barreto, um jesuíta que foi nomeado para seu cargo de arcebispo pelo Papa João Paulo II em 2004, parece estar respondendo em seu artigo aos recentes ataques contra o Sínodo da Amazônia pelos cardeais alemães Gerhard Müller e Walter Brandmüller.

Embora o peruano não mencione os outros cardeais pelo nome, ambos os prelados alemães alegaram nos últimos dias que a agenda do Sínodo é “herética“.

Em um ensaio publicado no site do blogueiro de direita italiano Sandro Magister, em 27 de junho, Brandmüller afirmou que a agenda “contradiz o ensinamento obrigatório da Igreja em pontos decisivos”. Em uma entrevista de 11 de julho com um jornal italiano, Müller concordou com Brandmüller e disse que encontrou “grande confusão” no documento.

O instrumento de trabalho afirma que a Igreja estava sendo solicitada a “estudar a possibilidade de ordenação sacerdotal para os idosos (…) para garantir os sacramentos para as áreas mais remotas da região.”

O documento também diz que a Igreja deveria considerar “um ministério oficial que pode ser conferido às mulheres, levando em conta o papel central que elas desempenham na igreja amazônica”.

Barreto não se aprofundou nas questões teológicas em seu artigo, em 18 de julho, em vez disso, concentrando-se nas necessidades pastorais e econômicas das pessoas em toda a região amazônica, que abrange cerca de três milhões de milhas quadradas e é dividido em oito países da América do Sul.

O peruano chama a Amazônia de “um território cada vez mais devastado e ameaçado”, citando, em particular, o efeito de empresas que participam da extração mineral, o que pode levar ao desmatamento, águas poluídas e conflitos com povos indígenas.

“Para nós, membros da Igreja Católica na Amazônia, queremos ser testemunhas vivas da esperança e da cooperação”, escreve Barreto. “Nesse sentido, como evento eclesial, o Sínodo pode ser um sinal importante da resposta efetiva que promove a justiça e a defesa da dignidade das pessoas mais afetadas”.

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 18-07-2019. A tradução é de Natália Froner dos Santos.

FONTE: IHU       

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