GEEA debate silvicultura como instrumento do desenvolvimento sustentável

Silvicultura como instrumento do desenvolvimento sustentável. Este foi o tema da 58ª Reunião do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), realizada na última sexta-feira. Esta foi a primeira reunião deste ano e o palestrante convidado foi o pesquisador do Inpa, Gil Vieira, graduado em Engenheiro Florestal, com mestrado em Ciências Biológicas e doutorado em Ecologia Tropical.

Confira o RESUMO da palestra feito pelo Secretário-Executivo do GEEA, Dr. Geraldo Mendes, Pesquisador do INPA.

Dr. Gil Vieira começou esclarecendo a ligeira diferença conceitual entre Silvicultura e Manejo Florestal, esclarecendo que os dois termos são complementares, porque o objeto de estudo, análise, exploração e cultura é exatamente o mesmo, ou seja, a floresta. Se em décadas passadas havia uma separação entre cultivar a floresta intacta e interferir nela com vistas à sua continuidade, atualmente as duas ações se completam e devem continuar atuando conjuntamente.

Logo em seguida, o palestrante fez uma retrospectiva histórica das abordagens florestais na Amazônia, especialmente com base nas iniciativas do INPA. Citou a criação da Reserva Adolpho Ducke na década de 1960; da Estação Experimental de Silvicultura Tropical, do Departamento de Silvicultura Tropical e da Divisão de Manejo florestal, todos na década de 1980.

Também fez um apanhado das principais linhas de pesquisa desenvolvidas no INPA, envolvendo estudos com madeira, frutos, sementes, resinas e óleos essenciais e com utilização de plantios homogêneos e mistos, tanto com espécies nativas quanto exóticas.

Ele citou alguns atos externos, tanto em nível nacional como internacional que foram responsáveis por grande impulso nas políticas voltadas para os recursos florestais. Dentre eles, destacou a morte de Chico Mendes em 1988, a realização da Conferência Mundial sobre meio ambiente em 1992; a instituição do Serviço Florestal Brasileiro em 2006, no qual foram definidas as Unidades de Conservação, bem como a instalação na Amazônia de empresas particulares e de grande porte que passaram a atuar no manejo florestal, como a CIKEL, a GETHAL e a Madeireira Mil.

Gil destacou vários aspectos da Lei 12.651, de 25 de Maio de 2012 que institui modificações fundamentais no Código Florestal Brasileiro e que corresponde ao período em que houve as maiores reduções das taxas de desmatamento na Amazônia. Também destacou alguns parâmetros importantes das Áreas de preservação permanente (APP), Áreas de reserva legal (ARL) e de Áreas de uso restrito (AUR). Ele destacou que a função dessas estruturas e diretrizes é promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.

Também vinculado à problemática da Silvicultura, o palestrante salientou a importância do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e do Programa de Regularização Ambiental (PRA), lembrando que o objetivo deles é permitir que os estados orientem e acompanhem os produtores rurais na elaboração e implementação das ações necessárias para a recomposição de áreas com passivos ambientais nas suas propriedades ou posses rurais. Evidentemente, cada Estado tem adotado políticas próprias, de acordo com suas características e condições, mas que esses mecanismos são importantes para uma melhor administração dos recursos florestais.

O palestrante detalhou alguns aspectos do Programa de apoio e incentivo à preservação e recuperação do meio ambiente, lembrando que seus principais objetivos são o aumento da produtividade agropecuária e florestal; redução dos impactos ambientais, sobretudo decorrentes de grandes obras que são instaladas na região e por fim o tão sonhado desenvolvimento ecologicamente sustentável.

Por fim, Gil destacou o Programa de Regularização Ambiental (PRA) que visa manter, recuperar ou recompor as áreas degradadas ou alteradas, em APP, ARL e AUR do imóvel rural, ou ainda de compensar Áreas de Reserva Legal.

De acordo com o palestrante, para o bom desenvolvimento da Silvicultura é importante investir em estudos básicos, por exemplo, sobre a fenologia das espécies, exigências nutricionais, taxa de crescimento e de mortalidade das mudas, bem como o espaçamento do plantio e o tipo de copa que se deseja.

Gil assegura que recompor as áreas degradadas é uma tarefa importante e urgente, no entanto, é preciso primeiramente definir que tipo de atividade ou técnica será utilizado para recompor ou recuperar tais áreas; caso contrário, corre-se o risco de gastar mais do que o necessário e não ter os resultados esperados.

Assim, é preciso levar em conta qual é exatamente o objetivo da recuperação ambiental, já que este pode ser de diversas naturezas, como por exemplo, plantio de enriquecimento, reabilitação ecológica ou serviços ecossistêmicos. É importante definir logo de início qual o produto floresta que se pretende obter e qual o prazo para isso, se de curto, médio ou longo prazo. Ele cita o caso de muitos empresários estarem investindo em reflorestamento como um tipo de caderneta de poupança para os filhos, o que é muito bom e educativo.

Gil afirma que os sistemas agroflorestais podem ter algumas limitações, o que é próprio de toda atividade humana, mas que há muitos benefícios já bem conhecidos, como o aumenta a renda familiar; custos de implantação e manutenção acessíveis aos pequenos agricultores; possibilidade de diminuição dos custos com insumos externos e segurança alimentar. Ele lembra que a Amazônia dispõe de aproximadamente 33 mil hectares de terras que foram desmatadas e estão aí disponíveis para serem regeneradas com a ação inteligente do homem.

Por fim, o palestrante enfatizou que o INPA precisa resgatar o protagonismo que teve no passado no setor da silvicultura e que hoje se encontra ameaçado por descontinuidade das pesquisas, desmonte de suas bases operacionais e carência de recursos humanos e financeiros. Ideia essa que foi compartilhada por todos os presentes à reunião.

Da Redação – GEEA  –   – Fotos: Cimone Barros – Inpa