Instituto Mamirauá desenvolve tecnologias para melhorar produção de farinha de mandioca no Amazonas

Crocante, amarela e torradinha, a farinha é uma paixão dos amazonenses que está ganhando paladares Brasil e mundo afora. Pensando na qualidade do produto e em melhorar as condições de trabalho dos produtores, o Instituto Mamirauá desenvolveu um modelo de casa de farinha com inovações tecnológicas e que usa energias limpas. Seguindo esse padrão, quatro casas de farinha foram inauguradas em 2018 em comunidades da Floresta Nacional de Tefé, no estado do Amazonas.

O projeto é uma parceria entre a Associação de Produtores Agroextrativistas da Flona de Tefé e Entorno (APAF) e o Instituto Mamirauá e tem apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

São Francisco do Bauana, Ipapucu, São Francisco do Arraia e Tauary são as comunidades envolvidas com a iniciativa. Localizadas a cerca de 640 km de Manaus, estão em uma área reconhecida pela produção de farinha de mandioca no estado. A famosa farinha de Uarini, também conhecida como ovinha por ser redonda lembrando as ovas de um peixe, vem dessa região, da qual fazem parte também municípios vizinhos como Tefé, Alvarães e a própria Uarini, que dá nome à farinha.

O produto pode receber nos próximos anos o selo de Indicação de Procedência, que reconhece a qualidade diferenciada da farinha e garante a autenticidade ao consumidor. O pedido foi depositado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2017, onde está sob análise.

Tecnologias andam ao lado da qualidade e tradição     

De acordo com Felipe Pires, analista do Programa Qualidade de Vida do Instituto Mamirauá, o modelo das novas casas de farinha foi construído junto com os agricultores que trabalham no ramo. O projeto seguiu o modo tradicional de fazer de mandioca, mas acrescentou ao processo melhoramentos tecnológicos para facilitar a vida do produtor e elevar ainda mais a qualidade do produto final.

“A disposição dos utensílios da casa de farinha foi cuidadosamente pensada, a organização dos fornos, da gamela, da prensa, do tipiti… tudo isso tem que estar bem localizado porque tem uma sequência de produção lá dentro”, explica o analista do Instituto Mamirauá. “Então projetamos a estrutura de forma que não fugisse da organização convencional deles, desde a chegada da mandioca à saída da farinha produzida ali”.

“A casa de farinha melhorada em si é uma grande tecnologia social equipada com tecnologias para ajudar o agricultor na lida de fazer a farinha”, complementa José Carlos Campanha Júnior, analista do Programa de Manejo de Agroecossistemas (PMA) do Instituto Mamirauá, que também deu assessoria ao projeto.

“A equipe pensou em uma infraestrutura positiva não só para o processo de trabalho, mas também para as questões ambientais, como a redução de uso de lenha e das áreas de roçado abertas na mata. Se você tem uma farinha melhor e mais valorizada economicamente, você não vai precisar abrir um roçado grande para plantar. O produtor pode ganhar mais com um roçado menor e uma farinha de melhor qualidade”.

O forno ecológico é um exemplo de tecnologia social presente nas novas casas. Projetados para reduzir o impacto ambiental, eles diminuem a liberação de gases perigosos à saúde e também facilitam a vida de quem lida com fogo no cotidiano, como é o caso dos produtores de farinha. Equipados com uma chaminé e uma rampa interna, os fornos canalizam e liberam a fumaça para fora do ambiente de trabalho, o que implica na melhor qualidade da farinha também.

Um sistema de captação de água da chuva e bombeamento de água das nascentes mais próximas também foi instalado em cada uma das quatro casas de farinha. As estruturas também são equipadas com caixas d´água de 500 litros que podem armazenar grande de quantidade de mandioca e são úteis no amolecimento da matéria-prima para a produção da farinha.

No final de 2018, a comunidade de Ipapucu fez a primeira torra do produto usando as novas tecnologias da casa de farinha. “Foi muito bom ver os produtores usando as caixas d´água com água diretamente da chuva para amolecer a mandioca, ao invés de ter que se deslocar até o igarapé”, conta Felipe Pires. “De acordo com eles, a farinha que foi feita usando a água de chuva ficou com uma coloração amarelada, mais bonita. E também perguntaram se poderiam ampliar a casa, construir mais fornos. Isso é um retorno bem interessante para a equipe técnica, de que realmente a casa de farinha foi adequada para os produtores, eles estão gostando e querem até aumenta-la”.

Para 2019, o Instituto Mamirauá planeja uma oficina de boas práticas para a produção de farinha de mandioca a ser realizada com os produtores da Floresta Nacional de Tefé.

Texto: João Cunha

FOTO: Felipe Pires

FONTE: Instituto Mamirauá

 

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