UFRR – Entrevista: Professor Giovanni Seabra

“Temos que aprender com o saber tradicional, os povos ancestrais que viviam e se relacionavam com os bens naturais”

Foto: Éder Rodrigues (Coordcom/UFRR)

Professor Giovanni Seabra foi professor titular da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), hoje aposentado. É bacharel em Geografia pela Universidade de Brasília (1986), Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco (1991), Doutor em Geografia Física na Universidade de São Paulo (1998), Pós-Doutor em Geologia Sedimentar e Ambiental, na Universidade Federal de Pernambuco (2004), Pós-Doutor em Geoecologia das Paisagens, pela Universidade Federal da Bahia (2006), Pós-Doutor em Gestão Socioambiental de Parques Nacionais, pela Universidade Central do Chile (2015). Autor de diversos livros e artigos científicos com experiência na área de Geociências, com ênfase em Geoecologia das Paisagens, atuando, principalmente, em temas como Diagnóstico e Análise Ambiental, Metodologia da Pesquisa, Ecodesenvolvimento, Planejamento do Turismo e Educação Ambiental. É coordenador do Projeto Turismo Sertanejo, desde 2001.

Nesta entrevista, professor Giovanni fala, na condição de professor visitante do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFRR (PPGEO/UFRR), sobre sua trajetória e estudos contemporâneos mais relevantes para a Geografia e  áreas afins. Entrevista concedida à Coordenadoria de Comunicação da UFRR (Coordcom/UFRR).

Coordcom – Na condição de professor visitante, qual é a importância de compartilhar experiências junto ao programa de pós-graduação em Geografia (PPGEO/UFRR), na contribuição para os debates nas áreas de pesquisa que interessam a Geografia?

Giovanni Seabra – Ao longo de três décadas, eu venho tendo experiências em diversas partes do país e do exterior. Sempre buscando o conhecimento do espaço geográfico, de uma forma globalizada, integral em todos os seus componentes. Quais são estes componentes? São físicos, sociais, econômicos, culturais e ecológicos. A partir destas experiências surgiu esta oportunidade de somar esses conhecimentos com os colegas da Universidade Federal de Roraima.

Estamos agora no Instituto de Geociências, no curso de pós-graduação em Geografia, o qual eu ingresso na qualidade de professor visitante. Estas experiências envolvem não somente a geografia especificamente para a leitura do espaço geográfico global, como também as áreas correlatas, como por exemplo, a educação ambiental, recursos hídricos e estudos da paisagem no que concerne a geoecologia da paisagem. Para uma avaliação mais completa, integrada e sistêmica da paisagem, nós utilizamos como método de trabalho de pesquisa a geoecologia da paisagem.

Coordcom – Qual a sua consideração sobre os estudos de ponta nos aspectos do espaço geográfico e que estudos o senhor tem se deparado em nível mundial, América Latina e Brasil que mais tem lhe motivado a manter este entusiasmo pela pesquisa?

 GS – Neste viés que nós trabalhamos em Geografia, nós enfocamos a dinâmica da natureza. São estes aspectos dinâmicos, este movimento no cenário geoecológico do espaço geográfico, que nós temos buscado nos situarmos e também propor ações ou medidas que possam promover um redirecionamento de algumas ações humanas que sejam nocivas ao meio ambiente, os chamados impactos ambientais.

Com base no conhecimento e metodologias aplicadas, nós podemos corrigir o curso da degradação. Neste aspecto, nós temos trabalhado também no contexto da paisagem geográfica o turismo comunitário com base local. Entendemos que há um potencial enorme, inestimável para o desenvolvimento deste turismo de base local e/ou comunitário.

Em Roraima, há os aspectos físicos, naturais, com diferentes cenários no campo da biodiversidade, de distintos biomas e também encontramos aqui inúmeros ecossistemas, que se somados aspectos cenário natural, esta diversidade da natureza, juntamente com a diversidade étnica cultural, temos assim a pavimentação, a estruturação do turismo com base local. É só questão de aprofundarmos os estudos para promovermos e executarmos propostas de desenvolvimento com base local.

Coordcom – A partir de sua experiência com biomas diferentes no Brasil, qual a sua análise em linhas gerais dos avanços na relação do que chamamos “homem e natureza” ou “sociedade e natureza”?

GS – Eu tenho conhecimento e oportunidade de vivenciar distintos biomas, notadamente o cerrado brasileiro, um Brasil Central, o bioma da mata atlântica e o bioma caatinga, especialmente são estes biomas que eu tenho trabalho e vivenciado. O que eu posso observar, nestas três décadas, é o avanço dos processos erosivos antrópicos, sobretudo e, consequentemente, a perda não somente da biodiversidade, mas da qualidade de vidas das pessoas.

Temos que aprender com o saber tradicional, os povos ancestrais que viviam, conviviam e se relacionavam com os bens naturais e que tem tido progresso muito grande no tocante a qualidade de vida e a interação destas comunidades com a natureza.

Já o homem chamado moderno está em um processo avassalador. Os biomas estão sendo destruídos em uma velocidade desmedida avançada. O fato positivo é que nós temos as unidades de conservação da natureza e suas várias categorias. Elas promovem a preservação de diversos ecossistemas no Brasil e também o patrimônio cultural e social. É nessa perspectiva que nós trazemos a contribuição para Roraima, uma vez que Roraima é um estado novo, um ex-território, e que tem grandes unidades de conservação de áreas protegidas da natureza e áreas de proteção dos povos ancestrais. Eu acredito que somado aos trabalhos já existentes aqui, podemos progredir bastante no campo da natureza e no campo social.

Coordcom – Qual sua mensagem para um mundo que precisa de mais geógrafos e precisa de análises que envolvem diversas áreas de conhecimento em perspectiva multidisciplinar ou transdisciplinar?

GS – Posso dizer que o mundo me foi apresentado pela Geografia. Sou professor de Geografia em todos os níveis, uma vez que eu iniciei no ensino do primeiro grau, do segundo grau, no ensino supletivo de formação de trabalhadores e no andar da carruagem, tornei-me professor universitário, com envolvimento com a pesquisa acadêmica, fato que me propiciou conhecer uma pequena parte do mundo que são referências.

Tenho percorrido áreas da Europa, América Central e países diferentes da América do Sul. Por meio do princípio da Geografia que é a analogia, ou seja, pela comparação de lugares, de hábitos, nos faz refletir sobre como vivem os outros povos e de como nós podemos viver dentro de uma ação reflexiva, acredito que muito do que estamos vivendo aqui em situações desfavoráveis, nós podemos corrigir com base no conhecimento de outros povos e comunidades.  É isso que eu tenho a acrescentar.

Aproveito para convidar os estudantes da pós-graduação a participar da disciplina que se chama “Planejamento e Gestão em Unidades de Conservação e áreas protegidas equivalentes” [as aulas iniciam-se dia 25 de abril no PPGEO/UFRR].  Acredito que essa uma oportunidade de atrair o conhecimento, a investigação e atrair a pesquisa científica em unidades de conservação e demais áreas protegidas para produzirmos um material e apresentar este material ao mundo acadêmico.

Coordcom – Uma das formas que a universidade tem para servir a sociedade é promover publicações com estudos científicos e trabalhos que permitem a visibilidade de pesquisas. Que trabalhos o senhor destacaria de sua produção?

GS – Primeiro, eu quero dizer que estudei em diferentes instituições de ensino superior, a começar por universidades em Brasília, universidades em Pernambuco, universidades na Bahia e universidades em São Paulo.

Em nenhum destes momentos em que eu tive oportunidade de estudar e de aprender, havia este acervo de material acadêmico que existe hoje. Hoje nós temos uma fartura de publicações de qualidade de excelência que são produzidos em várias universidades do Brasil, do exterior e essas em conjunto são artigos produzidos e elaborados por diferentes autores. Nesse aspecto, eu trago uma considerável contribuição: são cerca 50 obras publicadas, frutos de um trabalho individual, mas também de um trabalho compartilhado, sobretudo, resultados dos eventos acadêmicos na área de Educação Ambiental, na área de Geografia, Turismo, Meio Ambiente e Planejamento Ambiental e Recursos Hídricos. Nós temos disponíveis, não somente em livro impresso, mas também e-books, milhares de artigos em diferentes publicações que estão à disposição, não somente na Universidade Federal, mas em toda a universidade brasileira.

Foto e entrevista: Éder Rodrigues (Coordcom/UFRR) – Contribuição: prof. Dr. Antonio Tolrino de Rezende Veras (diretor do IGEO)

FONTE: UFRR

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *