Na última segunda-feira (26), o presidente Franklimberg de Freitas, o diretor de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável, Rodrigo Paranhos, e demais técnicos da Funai se reuniram com o cineasta Takumã Kuikuro, Yamalui Kuikuro e o professor da Universidade Queen Mary University de Londres, Paul Heritage, para tratar de parceria entre a Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu-AIKAX e a People’s Palace Projects, organização britânica sem fins lucrativos que desenvolve projetos artísticos para a justiça social e direitos humanos no Brasil e no Reino Unido.
As duas organizações já desenvolveram intercâmbios artísticos em anos anteriores e preparam para 2018 um projeto que proporciona experiência imersiva a partir de realidade virtual e aumentada e levará traços da cultura Kuikuro ao museu etnográfico Horniman Museum and Gardens, no Reino Unido.
Artistas daquele país e pesquisadores de etnoastronomia do Planetário do Rio de Janeiro visitarão a Aldeia Ipatse fazendo registros artísticos e mapeamento tridimensional da área, construindo protótipo para apresentação em Londres no final de 2018.
Takumã Kuikuro, membro do Coletivo Kuikuro de Cinema, expõe o interesse do seu povo na parceria: “Desde 2015 estamos trabalhando na tentativa de fortalecer o projeto. Construímos uma oca na aldeia para abrigar os artistas provenientes do intercâmbio. Viemos à Funai para deixar tudo regulamentado porque sabemos que o órgão trabalha pela proteção dos povos indígenas do Brasil.”
A Funai se propôs a contribuir com o projeto nos aspectos relacionados ao acompanhamento do intercâmbio de artistas; à promoção da cidadania, tendo em vista o registro material da cultura Kuikuro; à visitação, a médio prazo, interligando a vivência artística ao etnoturismo; e ao apoio aos Kuikuro no que diz respeito à proteção dos direitos de imagem e demais orientações baseadas nas Instruções Normativas referentes aos casos.
O presidente Franklimberg elogiou a parceria. “O intercâmbio cultural é muito proveitoso para as comunidades indígenas. Tudo o que venha a somar nesse sentido é muito positivo, e queremos contribuir para esse bom relacionamento porque os indígenas não estão apenas de acordo, mas têm total interesse em desenvolver a parceria.”
Parceria antiga
A relação entre os Kuikuro e a People’s Palace Project tem sido profícua. Em 2015, o cineasta Takumã Kuikuro foi convidado pela organização inglesa para a realização de residência artística de seis semanas em Londres. A experiência rendeu o documentário de média-metragem produzido por ele: “Londres como uma Aldeia” (London as a Village), lançado no ano posterior na aldeia Kuikuro e em espaços culturais do Reino Unido.
Em 2017, a parceria produziu duas residências artísticas na aldeia Ipatse que geraram grandes trabalhos. Financiadas pelo Arts and Humanities Research Council e Newton Fund, a visita do primeiro semestre desencadeou no mapeamento da aldeia por meio de tecnologias digitais e na captação ambissônica dos sons cotidianos da comunidade. Foi produzido, ainda, um documentário para rádio sobre a vida na comunidade, que será doado à AIKAX para o acervo da Casa de Cultura Kuikuro, a ser construída em Canarana/MT, e realizado um seminário sobre arte e preservação digital de culturas indígenas no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
A segunda visita de 2017 envolveu um jovem artista britânico, além de fundadores e artistas de organizações culturais da periferia do Rio de Janeiro: Spetaculu Escola de Arte e Tecnologia, Imagens do Povo, Agência Redes para a Juventude e Festival Multiplicidade. Por meio de oficinas de pinturas corporais, fotografias, língua, câmera escura, realidade virtual e hip hop, houve grande envolvimento dos Kuikuro e dos visitantes, resultando em trabalhos artísticos colaborativos apresentados no Festival Multiplicade no Rio de Janeiro, que contou com a participação de mais de quase cinco mil pessoas na Semana Kuikuro Xingu.
Os benefícios do intercâmbio cultural são inumeráveis e destacados, como afirma Paul Heritage, professor da Queen Mary University. “Os Kuikuro nos mostram como produzir novos conhecimentos sobre meio ambiente e cidadania. Quando nós trazemos esses artistas de fora, verificamos o compartilhamento dos saberes da sociedade do Xingu, o que é muito enriquecedor.”
Ascom/Funai