Colaboração internacional finaliza com o workshop um projeto sobre o histórico de espécies vegetais no Alto Rio Madeira. Instituto Mamirauá é uma das instituições convidadas com vistas a ampliar as pesquisas sobre o tema na região amazônica.
A alimentação pode revelar muitos detalhes do passado de ocupação humana na Amazônia. Esse é um dos focos dos estudos com colaboração do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Universidade de São Paulo e Universidade de Exeter. O projeto será encerrado com o 2° Workshop of the Upper Madeira River project, que acontece nos dias 27 e 28 de março, em Manaus, e o Instituto Mamirauá é um dos convidados para trocar experiências em uma rede científica sobre o histórico das plantas na bacia amazônica.As pesquisas, financiadas pelo Fundo Newton, se concentraram na região do Alto Rio Madeira, estado do Amazonas, na origem da domesticação de espécies vegetais. Em outra parte da Amazônia, conhecida como Médio Solimões, o Instituto Mamirauá vem desenvolvendo investigações da mesma natureza e vai trazer essa experiência ao workshop.
As pesquisadoras Márjorie Lima e Mariana Cassino representam o Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá no evento. Elas vão apresentar um panorama dos estudos conduzidos pelo grupo nos últimos anos, com atenção especial a “análise das plantas sob uma perspectiva histórica, que é compreender como as populações humanas ao longo do tempo se relacionaram com as plantas e de que forma esse relacionamento levou a transformações da paisagem”, explica Mariana.
“Nossa expectativa é mostrar os trabalhos do Instituto Mamirauá nesse sentido e pensar juntos em como integrar esforços, expandir nossas áreas de atuação, em uma busca mais profunda”, conta a pesquisadora do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Segundo ela, cujas pesquisas trazem o diálogo entre Arqueologia e Botânica, os dados coletados pelo Instituto Mamirauá corroboram uma visão mais ampla e científica da Amazônia pré-colonial bastante diversa em termos de apropriações e domesticações da paisagem.
“Esses dados mostram que muitas vezes os efeitos do manejo e domesticação são mais sutis do que podemos imaginar. Os pesquisadores pensam cada vez mais que as populações amazônicas do passado interviam na paisagem de diversas formas, de cultivo, corte, queima, mas também através de sistemas agroflorestais, cultivo de espécies arbóreas, que é algo muito emblemático da Amazônia, temos muitas árvores nativas e frutíferas com algum grau de domesticação”, complementa.
“No cerne dessas pesquisas está a questão ‘Qual é o papel da agricultura para essas sociedades amazônicas do passado?’ Será que ela foi tão importante a ponto de existir uma transição marcada ou uma dicotomia entre sociedades caçadoras coletoras e sociedades agricultoras?”, diz Márjorie Lima.
Texto: João Cunha
FONTE: Instituto Mamirauá