Brasil precisa aprender com a China a recuperar florestas

Instituto Escolhas

Governo chinês plantou, em 14 anos, equivalente a 56 anos de desmatamento na Amazônia. Nesse período, foram restaurados 28 milhões de hectares na China.

A China está executando um grande projeto de recuperação de florestas. Entre os anos de 1999 e 2013 já foram recuperados 28 milhões de hectares – o equivalente à área do estado de Alagoas, segundo matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo. O Brasil está muito distante de obter resultados próximos aos chineses: em termos de desmatamento, o país perde, aproximadamente, 500 mil hectares de floresta Amazônica por ano. Ou seja, em 14 anos, a China plantou o equivalente a 56 anos de desmatamento na Amazônia.

Para Sergio Leitão, diretor do Instituto Escolhas, a principal lição a ser aprendida com a China é a de que é possível recuperar florestas em larga escala: “O Brasil têm plenas condições de fazer a recuperação florestal acontecer, mas isso exige ações do estado, tempo e investimento”, declara. Apesar da meta de recuperar 12 milhões de hectares até 2030 – que integra a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, assumida em 2015, durante o Acordo de Paris –, o país mostrou avanços pouco significativos para o cumprimento da meta nos últimos dois anos.

Segundo informou o Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio de sua assessoria de imprensa, “ainda não há um dado oficial de monitoramento finalizado sobre a área recuperada”, e o órgão governamental está “avaliando os mapeamentos de uso da terra disponibilizados periodicamente para a produção de dados oficiais, como o TerraClass, mapas de uso da terra do inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE), classificações para o monitoramento do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) e mapa de cobertura e uso da terra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para verificar as informações disponíveis e o que precisa ser desenvolvido para chegar ao dado oficial de monitoramento da recuperação.”

Um estudo produzido pela The Nature Conservancy (Economia da Restauração Florestal) mostra, no entanto, a partir de sistemas de gestão de banco de áreas em restauração, que o Brasil tem recuperado cerca de 100 mil hectares por ano – o que corresponde a menos de 0,9% de sua NDC. Enquanto os resultados da China mostram que as áreas sem vegetação passaram a ser cobertas, atingindo 5 milhões de hectares entre os anos de 2000 e 2010 – com um reflorestamento anual equivalente ao desflorestamento brasileiro na Amazônia –, nesse ritmo, o Brasil levará 120 anos para recuperar 12 milhões de hectares de floresta – menos da metade do que a China recuperou em 14 anos.

Investimentos

De acordo com Leitão, o Brasil possui boas experiências no plantio de florestas nativas, mas “ainda são isoladas e precisam ser tratadas pelo governo como base para que o país crie um verdadeiro programa de recuperação florestal como o governo chinês fez”. Um passo fundamental para que o Brasil possa seguir o exemplo da China, segundo Leitão, é investir na produção de estudos para tornar o país conhecedor de todos os desafios que precisam ser superados para recuperar florestas nativas.

Além do conhecimento técnico e científico, o diretor do Escolhas lembra a importância de disponibilizar mudas em larga escala para que a recuperação aconteça e aponta a dificuldade de fazer plantios comerciais de espécies nativas já que, atualmente, todo o sistema de financiamento existente é pensado para as florestas exóticas – como, por exemplo, pinus e eucalipto –, “o Brasil precisa criar linhas de financiamentos voltadas às florestas nativas que, por ter um ciclo mais longo de plantio, precisam de recursos e regras compatíveis com suas características”, afirma.

Contribuindo para fornecer dados que possam impulsionar e alavancar o desempenho do Brasil na recuperação de florestas nativas, o Escolhas desenvolveu, em 2016, o estudo Quanto o Brasil precisa investir para recuperar 12 milhões de hectares de florestas?, que revelou a necessidade de um investimento de R$ 52 bilhões, capaz de produzir, inicialmente, um resultado com R$ 23 bilhões de retorno econômico, R$ 6,5 bilhões em arrecadação de impostos, além de gerar 215 mil empregos.

“O Escolhas indicou o volume de recursos que precisa ser investido e que esses recursos podem gerar empregos e benefícios econômicos, mostrando que recuperar florestas faz bem não só para o meio ambiente, mas à economia também”, afirma Leitão. “Também contribuímos com a plataforma #Quantoé? Plantar Floresta, que permite que qualquer proprietário de terra no país, que tenha uma área a recuperar, possa calcular o investimento que precisa fazer. A discussão do valor do investimento é fundamental para tirar do chão o cumprimento da meta assumida”, completa.

Enquanto isso, o MMA afirma que já vem trabalhando para organizar e disponibilizar recursos para as atividades de recuperação. “Entre os recursos, há o lançamento do Edital nº 2/2017 do Fundo Amazônia, no valor de R$ 200 milhões, o Programa de Conversão de Multas Ambientais (Decreto nº 9.179/2017), que tem o potencial de disponibilizar até R$ 4,6 bilhões para atividades de recuperação, bem como outras iniciativas de alocação de recursos por meio de fundos e projetos de cooperação internacional”, informou o Ministério.

Leitão conta que o investimento calculado pelo Instituto Escolhas foi feito considerando que o Brasil não possui um programa de recuperação ambicioso, apenas uma meta ambiciosa, e que a tendência é que o número de R$ 52 bilhões diminua à medida em que houver recuperação em escala do volume exigido para cumpri-la. No entanto, até 2017 não houve investimento e daqui para frente não há garantia de montante destinado. “É preocupante porque, para o Brasil cumprir a meta, seria necessário, ao menos no início, destinar recursos em torno de R$ 4 bilhões ao ano para a recuperação, que podem envolver tanto o governo como iniciativas privadas. O risco é não darmos o passo inicial para criar um amplo programa de restauração”, afirma.

*A informação sobre o reflorestamento na China é do artigo Increased vegetation growth and carbon stock in China karst via ecological engineering, publicado na Nature. Encontre mais artigos relacionados à Economia e Meio Ambiente no HUB de Estudos do Escolhas

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *