Projeto leva energia solar a extrativistas na Amazônia

Resex Produtoras de Energia Limpa, parceria entre ICMBio e WWF, instala sistemas fotovoltaicos em duas reservas em Lábrea, no Amazonas, melhorando a vida da comunidade.   

Usar energia elétrica de fonte limpa, com redução do óleo diesel e gasolina, para aumentar a produção das reservas extrativistas (Resex). Esse é o objetivo do Projeto Resex Produtoras de Energia Limpa, uma iniciativa do WWF e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Neste mês, foram instalados quatro sistemas da primeira fase do projeto, todos nas reservas extrativistas situadas em Lábrea (AM), a Ituxi e a Médio Purus. O município registra os maiores índices de desmatamento do estado do Amazonas e, nacionalmente, ocupa a 3ª posição neste ranking.

“Por isso é fundamental o fortalecimento das organizações sociais e o apoio à produção extrativista como forma de ampliar a renda dos moradores locais, evitando novos desmatamentos com a madeira ilegal ou criação de gado”, diz Mara Notthingham, coordenadora de Articulação de Políticas para Comunidades Tradicionais do ICMBio.

Ituxi

A escolha dos sistemas elétricos com energia solar fotovoltaica para uso produtivo foi feita pelas associações extrativistas. Na Resex Ituxi, na comunidade Volta do Bucho, distante a cerca de 200 km da sede do município, ou no mínimo 6 horas de barco rápido (voadeira), foram instalados 3 sistemas. Um para bombeamento de água de poço, um para refrigeração e outro para uso de equipamentos produtivos.

A comunidade aposta no açaí como um potencial importante na região. Por isso, a primeira máquina que funcionou na comunidade com energia solar foi uma despolpadeira. “Nós preparamos a sede da nossa associação com uma área específica onde vamos trabalhar com o açaí, onde ficará a despolpadeira e o freezer. Hoje só usamos açaí para consumo próprio, pois é muito perecível e não resiste até chegar à sede do município”, explica Irismar Monteiro Duarte, um dos líderes da Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Ituxi.

Quando a despolpadeira não estiver em uso, a energia solar será usada pelo agente de saúde local, que faz o controle da malária através de microscópio, além de outros fins comunitários, como rádio e carregamento de celulares, por exemplo.

Já com o sistema de bombeamento, toda a comunidade poderá ter água para uso individual e coletivo, além da limpeza de açaí e mandioca para produção. Os moradores deverão concluir uma rede de distribuição da água para todas as casas. Com isso, ganharão qualidade de vida e mais tempo, já que não terão que lavar roupa e louça no rio.

Médio Purus

Na Resex Médio Purus, onde há 97 comunidades e mais de 5.500 moradores, foi instalado o segundo sistema solar do projeto. O sistema faz o bombeamento de água de rio na Comunidade Jurucuá, distante cerca de duas horas de barco rápido da sede.

Com apoio da prefeitura, os moradores construíram uma casa de farinha flutuante, onde instalaram o sistema de bombeamento. Muita gente da comunidade não acreditava que, com energia do sol, seria possível bombear a água do rio para até 50 metros de distância, armazenando-a numa caixa d’água que está seis metros de altura acima da média das casas. “Quando todos ouvimos o som da água na caixa, foi uma emoção muito grande”, relata o gestor do ICMBio responsável pela Resex Médio Purus, José Maria Ferreira de Oliveira.

Neste sistema foi instalada uma tecnologia social desenvolvida por um morador de Lábrea. Francisco Brito Junior criou um filtro submerso – onde é acoplada a bomba d’água – que pode ser enterrado no leito do rio nas áreas de praia ou fixado em estruturas flutuantes nas regiões de barranco ao longo do rio. A segunda opção está sendo testada agora na comunidade Jurucuá. De acordo com o inventor, o filtro purifica a água do rio em 90% antes de chegar na caixa d’agua.

O líder da comunidade, Benedito Clemente de Souza, acredita que, com a água limpa, a comunidade obterá maior valor pela mandioca e farinha que produz, assim como uma melhora na saúde das famílias.

Segundo o diagnóstico socieconômico realizado pelo ICMBio, a maior incidência de viagens até a sede do município para atendimento de saúde se dá em função de diarreia provocada pela qualidade da água. Agora, com a água limpa em casa, esses problemas deverão ser reduzidos, assim como os gastos com combustível, tanto para os barcos que precisam prestar socorro aos doentes quanto com o uso de pequenos geradores fósseis, chamados de motores de luz pelos ribeirinhos amazônicos.

Equipamentos

Parte dos equipamentos utilizados nesses sistemas foram módulos, conversores e inversor recebidos de doação do Ministério de Minas e Energia (MME), do extinto Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios (Prodeem). O material estava guardado há quase 20 anos em Furnas, no Rio de Janeiro.

O WWF, como apoio do ICMBio, concorreu ao edital de doação do ministério e ganhou um dos lotes, direcionando todo o equipamento para as duas reservas extrativistas de Lábrea. No total, esses equipamentos chegam a 35 kW de energia solar fotovoltaica.

“O equipamento funcionou bem, com algumas adaptações, o que mostra a durabilidade e importância. O que antes estava num depósito que não pode ser usado pelo Programa Luz para Todos, agora vai impulsionar a produção sustentável extrativista na Amazônia”, disse a analista de conservação do WWF-Brasil, Alessandra Mathyas.

Além dos equipamentos doados pelo MME, o projeto conta com a parceria das empresas J. A. Solar, que doou painéis, e Schneider Eletric, e do Instituto Mamirauá, além do suporte técnico da Usinazul, da Universidade Estadual do Amazonas (campus Lábrea) e da prefeitura local.

Comunicação ICMBio     ,     
(61) 2028-9280

 

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