Para especialistas em meio ambiente e representantes de instituições que atuam na conservação e desenvolvimento da região Amazônica, não há muito o que se comemorar hoje, no Dia da Amazônia. Redução de repasse de verbas ao Fundo da Amazônia e medidas que podem incentivar o desmatamento e a mineração na região são os principais alvos de críticas dos ambientalistas.
Para a doutora em geografia e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Adorea Rebello Albuquerque, os cortes de R$ 196 milhões de repasses da Noruega ao Fundo da Amazônia não poderão ser avaliados a curto prazo, mas o impacto será gigantesco ao longo dos anos. De acordo com a especialista, infelizmente a data é apenas decorativa.
“Em termos econômicos a gente não tem como saber o impacto que vai gerar. Mas o desmatamento deveria ser proibido, a Amazônia pode se tornar um deserto mesmo sem que haja a mudança climática porque o nosso solo é arenoso. Então, à medida que você retira a cobertura vegetal, acelera os processos de erosão e, infelizmente, eles estão se tornando frequentes”, disse.
A engenheira agrônoma Muriel Saragoussi afirmou que, em virtude do Brasil não cumprir a contrapartida de reduzir o desmatamento, a Amazônia sofrerá as consequências – como corte de investimentos – e criticou a falta de investimentos dos governos na área da sustentabilidade. “O Brasil não honrou a parte no trato, que era diminuir o desmatamento, agora as instituições que desenvolvem ações com investimentos desse fundo serão prejudicadas. Um dos grandes problemas é que não há investimentos na sustentabilidade e estão diminuindo as punições contra os que fazem o errado”, disse.
A especialista em desmatamento do Greenpeace Cristiane Mazzeti fez duras críticas ao governo federal e a ações firmadas em parceria com ruralistas, que prejudicam a Amazônia, diz ela: “Estão sendo aprovadas medidas que vão incentivar o desmatamento, a grilagem de terras e a invasão de terrenos públicos e vão impactar no patrimônio que hoje é de todos”’.
Solução é desafio
Para a coordenadora da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SRSN/Amazônia), Thais Magid, a única forma de barrar ações que vão contra os interesses e preservação da região Amazônica é o diálogo, mas também o maior desafio. “O desafio é melhorar o processo de diálogo do governo com a sociedade civil e demais atores para a retomada de decisão na Amazônia. É importante o governo considerar que as ações de desenvolvimento para a nossa região devem seguir uma forte vertente da sustentabilidade social, econômica e ambiental”, disse.
Cortes
O geógrafo e diretor da WCS Brasil, Carlos Urigan, afirmou que a redução de 50% de verba que a Noruega repassa ao Fundo da Amazônia irão prejudicar diversos projetos que desenvolvem ações de conservação da Amazônia, tanto projetos já em curso quando projetos que ainda poderiam ser apresentados.
“O corte de recursos vai causar um impacto na capacidade de apoiar novos projetos e iniciativas que já recebem algum apoio. A gente perde projetos que mostram melhor caminho para a conservação e atividades mais sustentáveis em toda a Região Amazônica”, disse.
Carlos Urigan destacou projetos como a gestão e manejo em áreas protegidas, que são desenvolvidos pelo Instituto Mamirauá. “Infelizmente muitos e muitos projetos acabam sendo afetados”, disse ele.
Medidas arbitrárias
Nos últimos dois meses, a Amazônia foi alvo de duas ações que prejudicam a região. No mês de junho, a Noruega, maior doador ao Fundo da Amazonas e que já destinou ao Brasil U$ 1,1 bilhão, anunciou um corte de 50% ao fundo. Para este ano, o investimento será de R$ 196 milhões, metade do que foi repassado no ano passado. Mais recentemente, o governo federal autorizou a exploração mineral na Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), entre os estados do Pará e Amapá. A reserva foi criada em 1984, com o objetivo de fazer pesquisa mineral, e possui cerca de 47 mil quilômetros quadrados.
FONTE: Mídia e Amazônia