Hidrelétricas e o IPCC: 18 – A suposição de zerar emissões

A ideia de que emissões hidrelétricas declinam inexoravelmente até zero é enganosa. Um forte declínio nas emissões de gases de efeito estufa nos primeiros anos de vida de um reservatório é um padrão bem conhecido, mas isso não significa que as emissões sempre continuam a declinar até que atinjam um nível praticamente zero. As emissões podem estabilizar em um nível bem acima de zero em casos onde existe uma fonte renovável de carbono, tal como a inundação anual de vegetação herbácea na zona de deplecionamento, quando o nível da água é elevado na estação chuvosa.

Reservatórios diferentes podem ter regimes de gestão da água diferentes, diferindo na quantidade de variação vertical do nível de água e na área da zona de deplecionamento que é exposta quando o nível da água é baixo. No primeiro inventário nacional do Brasil, o reservatório de Três Marias, em uma área de Cerrado, no Estado de Minas Gerais, foi o “campeão” das emissões de metano, emitindo mais do que as represas amazônicas que foram incluídas no estudo [1, 2].

Na época das medições, o reservatório de Três Marias tinha 36 anos de idade e, portanto, havia passado em muito o pico inicial em emissões de metano. A variação vertical de 9 m no nível de água em Três Marias é uma provável explicação de como as emissões de CH4 podem ser mantidas ao longo do tempo. O cronograma das emissões de metano, com um grande pico inicial seguido de uma estabilização em um nível inferior, em longo prazo, acrescenta muito ao impacto de barragens em termos de interesses humanos.[3].

 

Philip M. Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 500 publicações científicas e mais de 200 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis neste link

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