A Funai lamenta a morte de Porfírio Carvalho, um dos indigenistas mais influentes da atualidade

José Porfírio Fontenele de Carvalho nasceu em Granja, no estado do Ceará, em 1947. Entrou para os quadros do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) logo antes de sua extinção e transição para a Fundação Nacional do Índio. Neste ano, 2017, completaria 50 anos de atuação junto aos povos indígenas, em especial com os bravos, que o “atraiu” quando atuou com Francisco Meirelles em Rondônia.       

Carvalho, como era conhecido por seus amigos e conhecidos, começou sua atuação como indigenista apoiando o sertanista Gilberto Pinto no contato com o povo Waimiri Atroari. As atividades de atração ocorriam no contexto da construção da rodovia BR 174 (Manaus-Boa Vista), que cortou ao meio o território Waimiri Atroari. Carvalho atuou no Maranhão, junto aos Guajajara, e em Marabá e no Acre. 

No Acre, chegou a ser acusado de “pintar cearenses de urucum”. Na época, era pouco reconhecida a presença indígena no Acre. Carvalho, junto com outros indigenistas e sertanistas, libertaram diversos povos do trabalho forçado nos seringais, retomando seus territórios tradicionais. Já no Maranhão, foi responsável por encaminhar a demarcação de terras Guajajara, Canela, Krikati e Gavião-Pubobye. No Pará participou das demarcações das terras Parakanã e Assurini do Trocará, mas foi aos Waimiri-Atriari, povos considerados de recente contato pela Funai, sua maior dedicação. 

Em 1980, Carvalho foi eleito para presidir a Sociedade Brasileira de Indigenistas (SBI), formado por mais de 80 indigenistas insatisfeitos com os rumos da política indigenista no Brasil. 

Carvalho retornou em 1988 à área Waimiri Atroari, para atuar como consultor do Programa Waimiri Atroari (PWA). Encontrou cerca de 370 índios, sendo que em 1971 constituíam uma população estimada de mais de 1500 pessoas. Os Waimiri Atroari estavam em situação de extrema vulnerabilidade em decorrência da construção da BR 174. Segundo os dados fornecidos pela PWA, havia uma taxa de redução populacional na ordem de 20% ao ano. Dependiam de alimentação externa, portanto os índices de desnutrição eram altíssimos. Epidemias de sarampo e malária assolavam a população Waimiri Atroari. 

O PWA foi criado e desenvolvido a partir de 1988, em parceria com a Funai, como medida de mitigação dos impactos da construção da Usina Hidrelétrica de Balbina. A UHE alagou extensas áreas do território tradicional do povo Waimiri Atroari. O PWA contou inicialmente com financiamento da Eletronorte e posteriormente com recursos complementares de outros apoiadores. Carvalho, como consultor do PWA, em conjunto com o povo Waimiri Atroari, protagonizou o que seria uma das experiências mais bem sucedidas de fortalecimento de um povo indígena. 

Dos 375 indígenas em 1987, passaram para 1932 em abril de 2017. Os Waimiri Atroari usufruem de uma alta taxa de crescimento vegetativo, na ordem do 5,98% ao ano, uma das maiores taxas do mundo. Todas as comunidades contam com atendimento médico primário e há 100 % de cobertura vacinal. Todas as 45 escolas são bilíngues, com participação de 76 professores indígenas, sendo que 69% da população é alfabetizada. Os Waimiri Atroari são autosuficientes no que diz respeito à sua alimentação. 

Porfírio Carvalho foi também responsável pela implementação do Programa Parakanã, desenvolvido desde 1987 em parceria com a Funai. O projeto tem entre seus objetivos desenvolver ações de assistência nas áreas de saúde, educação, apoio à produção e defesa do território Parakanã. Antes da implantação do projeto, os Parakanã somavam 247 índios. Em 2012 esse número atingiu a marca de 883 indivíduos.  

A partir de 2012, Porfírio Carvalho e o povo Waimiri Atroari apoiaram a Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados, por meio da Frente de Proteção Etnoambiental Waimir-Atroari, na confirmação da existência do um povo indígena isolado na região, os Pirititi, e no processo de Restrição de Uso da Terra Indígena Pirititi. 

Porfírio Carvalho praticava um indigenismo de persistência, politizado e de incondicional lealdade com os povos indígenas. É, sem dúvida, um dos indigenistas mais influentes da atualidade. Nos deixou no plano físico, mas sua imagem continuará persistindo, e inspirando as atuais e futuras gerações de indigenistas.

 

Fundação Nacional do Índio

 

 

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