Poder destruidor da água: enchentes intensas na Amazônia

Assim como a água é um bem precioso para a sobrevivência humana, também pode ser causadora de grandes desastres. Apesar dos fenômenos de enchente e vazante dos rios na Amazônia serem regulares, uma vez que acontecem anualmente, alterações climáticas causam mudanças nesse sistema que podem ser devastadoras, como inundações de diversos municípios do Amazonas e do Acre, sem contar com outros países da Amazônia Internacional, como o Peru, que tem sofrido com as chuvas deste ano.

No Amazonas, a previsão para a enchente de 2017, que atinge seu ápice comumente no mês de junho, é de uma das seis maiores dos últimos 10 anos. A previsão é do grupo de pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Maua), no Instituto Nacioanal de Pesquisas da Amazônia (Inpa), liderado por Jochen Schongart.

O pesquisador explicou ao Portal Amazônia que os dados dados historicos das enchentes têm sido observados nos ultimos 20 ou 30 anos. “Notamos que as cheias estão cada vez mais intensas, mais severas e em frequências mais curtas. Isso é causado tanto pelos dados de anomalias de temperatura superior registradas no Pacifico equatorial, com fenômenos como a La Niña, que tem a tendência de aumentar a chuvas nas cabeceiras dos rios”, informou.

De acordo com o pesquisador, a cheia deste ano no Amazonas pode ser uma das mais severas e que voltará a ultrapassar os 29 metros em Manaus. “Não podemos afirmar com precisão qual nível atingirá. Mas observamos que temos as forças naturais das anomalias climáticas e sabemos que a ação humana pode influnciar também nesse processo”, explicou. Entre as ações está o aquecimento global.

A previsão de Schongart é que a cheia tenha uma média de 29,18 metros, com margem de erro de 30 centímetos para cima ou para baixo, o que é alarmante para o município. “Uma cheia dessa magnitude causa impactos sociais, economicos, perdas na agricultura, problemas com o gado. Procuramos publicar a previsão com três meses de antecedência para que as politicas publicas possam tomar providencias para mitigar os impactos sociais e economicos”, justificou. A média histórica do rio Negro é de 27,87 metros com base nos dados que se tem desde 1903.

Para ele, é uma vantagem regional conseguir monitorar e realizar previsões deste tipo. Áreas como a da Mata Atlântica, onde eventos climáticos severos ocorrem em diferentes momentos são mais difíceis de conseguir prever, enquanto na Amazônia o ciclo dos rios tem um padrão regular. “É por isso que temos boa possibilidade de prever com antecedência, mas não podemos prever a magnitude”, afirmou.

Em 2015, o nível do rio atingiu 29,66 metros. Em 2014 e 2013 foram registradas as marcas de 29,33 metros e 29,50 metros, respectivamente, e em 2012, atingiu 29,97 metros, a maior cheia no registro, e em 2009, foi de 29,77 metros.

Um dos indícios na forte enchente deste ano é o nível das águas do rio Negro em janeiro, no Porto de Manaus, que subiu de maneira nunca foi observado nos últimos 114 anos. “Nas primeira semana do ano tinha dia que o nivel da água subia mais de 20 centimetros por dia. Isso é anormal na vazante, quando o rio baixa, mas não na enchente. Não analisamos em detalhes, mas com certeza tem a ver com o regime de chuvas nas cabeceiras, responsavel por modular a cheia”, disse.

Alerta

Segundo a engenheira ambiental no Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Luna Gripp, os alertas de cheia iniciam na próxima semana. “Vamos fazer a primeira previsão agora no fim de março, dia 31. A medida que fomos medindo os níveis dos rios da região vamos refinando a previsão, que deve ter a segunda versão divulgada dia 30 abril e a terceira dia 2 de junho”, informou.

No 11° Boletim Hidrológico do órgão, divulgado dia 17 de março, a Bacia do Rio Negro está com níveis acima das médias para esta época do ano, principalmente no alto curso, entre os municípios de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro. No Porto de Manaus, o rio apresenta cotas elevadas para o período. No dia 17, o nível estava 66 centímetros abaixo do registrado para mesma data em 2012, quando ocorreu a cheia histórica.

No Purus, os rios monitorados estão em pico de cheia, com níveis normais para a época. Na Bacia do Branco, monitorado em Boa Vista e Caracaraí (RR), o rio segue em vazante com níveis próximos a média para data. Já na do Solimões, as cotas estão acima dos valores médios para época em todo seu curso e em todas as estações monitoradas. Em Humaitá (AM), o rio Madeira está em pico de cheia, com processo regular de enchente. E na Bacia do Amazonas, as estações estão em processo de enchente com níveis elevados em relação à média, próximos aos observados nas cheias históricas.

Acre

No Acre, a situação do Rio Juruá também mostra como a força da água pode ser destruidora. A Agência Acre informou nesta terça-feira (21) que as chuvas de março estão elevando o nível do Rio Juruá e que registrou 13,28 metros no município, ultrapassando a cota de transbordamento, de 13 metros.

A medição do manancial é realizada diariamente pelo Corpo de Bombeiros. Segundo dados do batalhão, 17 famílias encontram-se desabrigadas, em decorrência da cheia do rio, e foram acomodadas em um abrigo público, instalado pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul.

Peru

As chuvas no Peru tem causado desastres e gerado desespero desde janeiro deste ano. As autoridades informaram que, por conta das inundações, o número de mortos até agora é 72. Mais de 600 mil pessoas foram afetadas. São deslizamentos de terra e pedras, além do transbordamento dos rios, causados por um El Niño Costeiro (aquecimento anormal do Oceano Pacífico). O serviço meteorológico do Peru alerta que esta semana as chuvas continuam e podem aumentar nos próximos dias. Países vizinhos, como Equador e Colômbia, ofereceram ajuda humanitária – alimentos, material de uso pessoal – aos peruanos.

De acordo com a Agência Brasil, a pedido do governo do Peru, a Força Aérea Brasileira enviou uma aeronave Hércules C-130 para apoiar operações de logística nas regiões mais afetadas.  O Hércules C-130 é um dos aviões de transporte militar de grande capacidade mais usados no mundo.  Segundo nota do Ministério das Relações Exteriores divulgada nesta terça-feira (21) o governo brasileiro reitera sua solidariedade às famílias das vítimas, ao povo e ao governo do Peru, que enfrenta uma das calamidades climáticas mais graves dos últimos anos.

Fonte: Portal Amazônia

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