Hidrelétricas e o IPCC: 4 – Barragens tropicais emitem mais

Barragens tropicais, especialmente aquelas nos trópicos úmidos, emitem substancialmente mais gases de efeito estufa do que aquelas em outras zonas climáticas (ver extensa revisão por Barros et al. [1],). Isto se reflete nos estudos de ciclo de vida: uma revisão por Steinhurst et al. [2] conclui que barragens tropicais emitem 1.300-3.000 g CO2e/kWh contra 160-250 g CO2e/kWh para barragens boreais, com termelétricas, utilizando gás natural, petróleo e carvão emitindo 400-500, 790-900 e 900-1.200 g CO2e/kWh, respectivamente.

Como ilustração, as emissões podem ser calculadas para a barragem de Petit Saut, na Guiana Francesa, que é a barragem tropical mais bem estudada para emissões de gases de efeito estufa. Um cálculo de 20 anos está apresentado na Tabela 2, incluindo uma comparação com a produção da mesma quantidade de eletricidade a partir de uma usina de ciclo combinado a gás natural.

O período de 20 anos é o período de tempo relevante para manter a temperatura média global, dentro do limite de 2° C acima da média pré-industrial. A comparação indica 22 vezes mais emissões (g CO2e/kWh) da barragem em comparação com o gás natural, com base em um GWP de 20 anos para a conversão de metano em CO2e. Mesmo se for usado o GWP de 100 anos, a represa tem 19 vezes mais emissões nos primeiros 20 anos.

Dois componentes de impacto líquido da hidrelétrica de Petit Saut  são omitidos no cálculo na Tabela 2: a perda das emissões do solo sob a floresta natural que é inundada e o acréscimo da emissão do solo na zona de deplecionamento. Petit Saut tem uma zona de deplecionamento de 100 km2 ([3], p. 4), ou 18% da área de 560 km2 de floresta original que foi inundada. A zona de deplecionamento é exposta a cada ano, quando o nível de água no reservatório é abaixado e o solo encharcado pode ser esperada emissão de metano durante parte do ano.

Em contraste, solos bem drenados sob florestas tropicais úmidas são geralmente sumidouros de metano em vez de fontes: 22 estudos revisados por Potter et al. [4] indicam uma absorção média de 3,8 kg CH4/ha/ano). Alguma formação de poças ocorre durante a estação chuvosa em florestas tropicais de terra firme, mas a porcentagem de área total não é grande: em florestas perto de Manaus, Brasil, essas áreas representam 5% da superfície inundada em cada evento [5]; no entanto, eventos de inundação não ocorrem todo ano.

Delmas et al. [6] dão uma estimativa alta para emissões evitada do solo de floresta; outras estimativas são muito mais baixas (e.g., [7]). Acredita-se que a emissão do solo na zona de deplecionamento seja maior do que a emissão do solo de floresta evitada, fazendo a Tabela 2 conservadora como estimativa do impacto líquido de Petit Saut [19].

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