Inpa apresenta no Proamazônia soluções tecnológicas sustentáveis resistentes e de baixo impacto

Focado em gerar conhecimento e tecnologias voltados para soluções de problemas ambientais da região, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) apresentou no I Workshop Proamazônia produtos resistentes e de baixo impacto que podem ser utilizados na construção, nos recursos hídricos e na alimentação. Entre as tecnologias estão a Casa Ecológica, produzida a partir do bambu – considerado um aço verde, tijolo vegetal, biocompósito de madeira, purificador de água e implantação de um pólo especializado de desenvolvimento tecnológico do pescado, que poderá fazer picadinho de peixe enlatado. 

Promovido pelo Comando Militar da Amazônia (CMA), o workshop aconteceu na última quinta-feira (01), no Centro de Convenções Vasco Vasques. O evento reuniu academia, governo e indústria, no modelo de tríplice hélice, em busca de novas matrizes econômicas para o Amazonas, Estado que tem a economia concentrada no Polo Industrial de Manaus.

Além de ser âncora nos temas construção e água potável (recursos hídricos), o Inpa também participou como apoiador nas discussões sobre alimentação, saúde e transporte. Cerca de 40 pesquisadores e técnicos do Instituto participaram do evento. “O Inpa participou do workshop desde a sua concepção, e no evento executou o seu protagonismo de forma concreta, tanto pela sua expressiva participação quanto pelas discussões nos temas”, disse o diretor do Inpa Luiz Renato de França. 

Na oportunidade, o diretor do Inpa e o coordenador de Extensão, Carlos Bueno, foram condecorados com a Medalha Exército Brasileiro. Criada este ano, a medalha é destinada a distinguir cidadãos e instituições civis, brasileiros ou estrangeiros, integrantes da Marinha do Brasil, da Força Aérea Brasileira e das Forças Auxiliares, bem como suas organizações Militares que tenham praticado ação destacada ou serviço relevante em prol do interesse e do bom nome do Exército Brasileiro.

 

FotoSite Proamazonia Acervo CMA

 

“Fico muito feliz em receber a medalha, por vários aspectos: primeiro, porque estou recebendo pelo trabalho que vem sendo feito pelo Inpa em associação com o Exército, então essa é uma medalha do Inpa; segundo, do ponto de vista pessoal, porque vim para ser diretor do Inpa sem conhecer a região, e receber uma medalha dessa magnitude pelos trabalhos desenvolvidos na Amazônia tem relevância muito grande para mim e mostra que estamos tentando fazer um trabalho da maior seriedade possível”, revelou França.

O evento objetiva sondar as condições em que problemas de energia, comunicação, água potável, construções, alimentos, saúde, logística e transporte afetam a população. “Não podemos propor uma matriz econômica sem que as condições básicas de vida da população possam ser atendidas”, destacou o assessor especial do Exército para assuntos de CT&I, o general Sinclayer Mayer, que agradeceu ao Inpa pela fundamental participação da instituição no evento.

Bambu e casa ecológica

O pesquisador do Inpa Ruy Sá Ribeiro conta que em 1999 descobriu a importância do bambu e sua utilização na construção civil como fibras, partículas e lâminas. Ele explica que estes materiais promovem maior resistência e rigidez ao material compósito desenvolvido, injetando materiais verdes de alta performance. “As fibras naturais têm como características básicas a baixa densidade, o baixo custo, o baixo consumo de energia, além de neutralizar o gás carbônico”, diz.

Dois grupos de pesquisas do Inpa estão envolvidos com os trabalhos de construção verde. Além de Ruy Sá Ribeiro, integram os estudos os pesquisadores Marilene Gomes Sá Ribeiro (arquiteta), Ires Paula Miranda, Jadir Rocha e Fernando Almeida.

De acordo com Ruy Sá, o bambu é uma planta que pode ser utilizada em diversas áreas. Além da construção civil, pode ser empregado como meio de transporte (fabricação de bicicleta), alimentação (palmito), saúde (instrumento de massagem) e em objetos de decoração. “É um recurso renovável, de rápido crescimento e de alto rendimento”, diz. “A maturação do bambu é de quatro anos para utilização na construção civil, na região. No primeiro ano, pode ser usado para fazer palmito. O crescimento da planta varia de 15cm a 18cm por dia. Não é exigente e se adapta a qualquer solo”, acrescenta.

As pesquisas começaram em 2004 com a aprovação do projeto de construção sustentável – uma vila ecológica dotada de oito casas com 42 m2 cada, utilizando o bambu. Na primeira fase, os pesquisadores construíram, em 2006, no Bosque da Ciência, uma casa protótipo, a Casa Ecológica (CasaEco), para avaliar as condições técnicas e estruturais do projeto antes de construir a vila. Já a vila foi construída em 2007 na Reserva Florestal Adolpho Ducke (no Km 26 da AM-010) para oferecer à comunidade científica alojamentos adequados para fazerem as pesquisas.

Para garantir as construções e ter matéria-prima suficiente, foram plantadas 200 mudas do bambu Guadua angustifolia. “O bambu guadua angustifolia é nativo da Amazônia, mas as mudas vieram da Amazônia colombiana por ser uma espécie de melhor qualidade. No Equador e na Colômbia é utilizado na construção”, explica Marilene Ribeiro. Os pesquisadores trabalham com três espécies de bambus: Guadua angustifolia, Dendrocalamus asper e a Bambusa vulgaris.

 

FotoSiteRuySaRibeiroProamazonia

 

A palestra do pesquisador Ruy Sá foi prestigiada pelo general Miotto, que ficou entusiasmado com o potencial do bambu. “Às vezes, as soluções estão tão perto de nós, e só nos preocupamos com soluções de alta tecnologia”, disse o general. “Temos muito que aprender com o Inpa”, destacou.

Durante a palestra, o pesquisador mostrou outras tecnologias sustentáveis verdes na área de construção, como as chapas de galhos de buriti, as chapas de folhas secas e o tijolo vegetal – desenvolvidos pelo pesquisador Jadir Rocha-, e o biocompósito cimento-madeira, elaborado pelo pesquisador Fernando Almeida.

 

FotoSiteFernando

 

Alimentação

Na área de alimentação, o pesquisador Nilson Carvalho, que trabalha há 32 anos com tecnologia do pescado, apresentou produtos desenvolvidos pelo Inpa com frutas e pescado. Para que os produtos cheguem ao consumidor, Carvalho propôs a “Implantação de um polo especializado de desenvolvimento tecnológico do agronegócio do pescado no Estado do Amazonas” na nova matriz econômica sustentável.

Carvalho explica que o projeto consiste na construção de frigorífico em módulos para o beneficiamento do pescado (tambaqui e pirarucu) para atender aos piscicultores da região. No projeto, o frigorífico terá a capacidade de 5 toneladas por dia e seriam processados produtos que poderiam ser comercializados e inseridos na merenda escolar. “Há outras propostas para utilização dos módulos, como enlatar o picadinho de peixe, que é viável tecnicamente”, diz o pesquisador. 

 

FotSiteNilsonCarvalhoProamazonia

 

Segundo Carvalho, o tempo de vida do picadinho de peixe é de dois anos e pode ser transportado por longos períodos sem o problema de refrigeração. “Poderia ser levado para a merenda escolar nos municípios mais distantes. O Exército poderia levar para as fronteiras o peixe já enlatado com a facilidade de só abrir e comer”, ressalta.

 

Da Redação – Ascom Inpa

Foto: Luciete Pedrosa

 

 

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