Diálogo sobre isolamento e contato na região do rio Piranha: os isolados Hi-Merimã e os povos do seu entorno

Entre os dias 25 e 28 de novembro, durante uma Oficina de Capacitação de servidores promovida pelo Centro de Trabalho Indigenista, a Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Madeira-Purus, que é uma unidade descentralizada da Funai, se reuniu com os povos indígenas da bacia do Rio Piranha, com antropólogos e indigenistas para discutir sobre o isolamento e o contato. 

Essa iniciativa permitiu reunir os indígenas Jamamadi, Banawá, Jarawara e Paumari para conversar e relatar as histórias sobre os Hi-Merimã. Reunindo indígenas anciões e jovens, o encontro deu origem a reflexões e relatos sobre avistamento e contato com os isolados. Na sequência das apresentações dos indígenas presentes, a FPE apresentou o histórico de atuação do órgão indigenista na região do rio Purus. Daniel Cangussu, coordenador da FPE Madeira-Purus, relatou o começo das atividades desenvolvidas na região, voltando assim ao início dos anos 1990 com as primeiras expedições realizadas.

Após a apresentação dos trabalhos da FPE, os indígenas anciões relataram avistamentos e contatos com os isolados Hi-Merimã, tendo o apoio dos consultores antropólogos que trabalham na região, Karen Shiratori e Miguel Aparicio. Essas narrativas representaram um marco importante na relação entre a FPEMP e indígenas do entorno da TI Hi-Merimã, pois foi a primeira vez que as lideranças indígenas Jamamadi e Banawá, e servidores da  FPEMP, se reuniram para uma discussão, reflexão e compartilhamento de informações sobre os  isolados Hi-Merimã que habitam a bacia do Rio Piranha. A soma das histórias contadas deu origem a reflexões e hipóteses indispensáveis para atuais e próximos trabalhos a serem desenvolvidos.

Ainda foi exibido o filme Isolados no Purus, um curta-metragem dirigido por Adolpho Kilian, primeiro indigenista da Funai que atuou na região em proteção dos isolados Hi-Merimã. Para dar continuidade ao trabalho apresentado no vídeo, a equipe da FPE Madeira-Purus apresentou fotos de vestígios encontrados nas ultimas expedições realizadas na região. A projeção dessas imagens deu início a uma discussão sobre a cultura material dos isolados da região, permitindo que os povos indígenas participantes reconhecessem semelhanças com as suas próprias práticas culturais. Essas reflexões fortaleceram a hipótese de parentesco entre os isolados Hi-Merimã e os outros povos Madi da região, como os Jamamadi (Nakanike, Hawa, Buti, Waiafi) e Banawá.

Mesmo a oficina tendo como principal tema o compartilhamento de relatos sobre os isolados Hi-Merimã, ela também permitiu discussões sobre os planos de vigilância a serem desenvolvidos no âmbito do projeto “Proteção Etnoambiental de Povos Isolados e de Recente Contato na Amazônia Brasileira”, em consonância aos trabalhos de vigilância e proteção territorial desenvolvidos pela equipe da Frente. Assim, no último dia do encontro, domingo 27 de novembro, os indígenas Paumari introduziram as ações de vigilância e os planos de manejo estabelecidos nas terras indígenas Paumari do lago Paricá, do lago Manissuã e do Cuniuá. A intervenção deles permitiu com que os outros povos indígenas presentes refletissem e se inspirassem para a execução de seus próprios trabalhos.  No período da tarde foi realizada uma visita na região do rio Aripuanã a pedido dos indígenas Jamamadi que foram visitar um antigo cemitério do seu povo.

Os indígenas relataram histórias de outros povos que habitavam antigamente na região e que poderiam estar vivendo em situação de isolamento. Dessa discussão, guardam-se reflexões interessantes sobre o etnônimo Hi-Merimã e a probabilidade de que ele englobe mais de um grupo em isolamento.

A oficina marcou um primeiro evento em que estiveram presentes lideranças antigas e jovens, junto com a equipe da FPE Madeira-Purus e antropólogos que atuam na região, para discutir sobre as dinâmicas territoriais. Precisamente, foram elaboradas reflexões importantes sobre o contato e o isolamento na região, resgatando  dessa forma um importante histórico das redes de relações dos povos Madi da região do rio Piranha. 

 

14/12/2016

 

Centro de Trabalho Indigenista  

 

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