Mulheres indígenas de Roraima realizam encontro regional

Mulheres indígenas da região Amajari, em Roraima, se reuniram entre os dias, 26 e 28 de setembro, na comunidade indígena Araçá, Terra Indígena Araçá. O encontro regional “A Voz das Mulheres Indígenas na luta pelos seus Direitos” teve o objetivo de debater os direitos da mulher indígena e os direitos coletivos já conquistados, além de apontar novos caminhos de luta no contexto territorial, ambiental e principalmente na sustentabilidade e valorização dos saberes tradicionais.

Seminário Voz das Mulheres Indígenas – Foto: Acervo Funai

O seminário reuniu mulheres indígenas dos povos Sapará, Taurepang, Wapichana e Macuxi de diversas faixas etárias.

A Secretária do Movimento de Mulheres Indígenas do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Telma Marques Taurepang, ao abrir o evento, falou sobre a participação da delegação indígena na 33ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra. “A nossa luta tem sido incansável, e conquistar esses espaços internacionais é um grande resultado desse processo, por isso devemos valorizar esses espaços para apresentar as nossas demandas, as nossas dificuldades, e reivindicar a garantia e o cumprimento dos direitos que constantemente são violados e ameaçados”, disse.

A Coordenadora Geral de Promoção à Cidadania da Funai, Leia do Vale Wapichana, relembrou a inclusão das mulheres nas ações da Funai em 2002, na gestão do então presidente Artur Nobre Mendes, quando a Funai apoiou uma reunião em Brasília com a participação de 42 mulheres indígenas das diversas regiões do país. “Daquele encontro resultou a “Carta das Mulheres Indígenas”, com cem propostas, no entanto, somente em 2006 se deu a primeira ação específica para as mulheres indígenas: a ação de Promoção de Atividades das Mulheres Indígenas, por meio de projetos, e a criação da Comissão de Controle Social”, lembrou Leia Wapichana. Em 2008, foi criada a Coordenação de Mulheres Indígenas, com atividades específicas, realizadas parcerias institucionais e as indígenas passaram a ser incluídas no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Hoje, na Funai, as políticas para as mulheres indígenas estão a cargo da Coordenação de Gênero, Assuntos Geracionais e Mobilização Social.

Pierangela Wapichana, professora do Instituto Federal de Roraima que se destacou pela peregrinação por vários países, culminando com a visita ao Papa, em busca de apoio à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, chamou a atenção para a importância da união das mulheres indígenas e do movimento indígena “como forma de se contrapor à grande mídia, que ignora a intelectualidade dos povos indígenas”. Defendeu ainda que os espaços sejam ocupados nas esferas de governo, por meio de concursos, ou garantidos no contexto do controle social e político no exercício da cidadania.

“A visibilidade das mulheres indígenas aparece cada vez mais nas discussões de terra, saúde, educação, política e sustentabilidade”, afirmou Telma Taurepang, que defendeu, para a saúde, que as práticas tradicionais se integrem com a medicina ocidental, de forma complementar. Nesse sentido, dona Lucila Wapichana, de 72 anos, apresentou sua produção de medicamentos naturais à base de cera de abelha, ervas, folhas. Defendeu também o parto normal, criticando o olhar de muitos médicos sobre o ato de parir, que agora consideram de “alto risco”, sem levar em conta a cultura indígena. O coordenador regional de Amajari, do CIR, Avelino Duarte, anunciou a formatura em medicina, no fim deste ano, da jovem Josidene Marque Taurepang, como um motivo de orgulho e um sinal de que possa haver realmente um atendimento diferenciado com a formação de profissionais indígenas.

A Secretária do CIR, Telma Taurepang, também fez o anúncio de cem bolsas de estudo que o Conselho conseguiu para indígenas em universidades paulistas, com a cota de vinte vagas para mulheres indígenas da região de Amajari. A avaliação do evento foi considerada positiva, e as propostas para o planejamento de 2017, discutidas em grupos de trabalho, foram entregues para apreciação em uma reunião ampliada com todas as mulheres indígenas de Roraima.

O seminário realizado pela Secretaria do Movimento de Mulheres Indígenas do CIR teve o apoio da Fundação Ford, da Funai e das mulheres indígenas da região Amajari, que contribuíram com a sua produção agrícola, bovina e produtos da piscicultura, potencias de produções sustentáveis existentes na região.

Eleonora de Paula/Ascom Funai.

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