Peru Scrambles to Drive Out Illegal Gold Mining and Save Precious Land

A force of marines and rangers is outnumbered as it tries to protect the area anchored by the Tambopata reserve, one of the most biologically diverse places on Earth.

The raid began at dawn. In four small wooden boats, the forest rangers and Peruvian marines, checking and rechecking their automatic weapons, headed silently downriver toward the illegal gold miners.

They didn’t have to go far. Around the first bend was a ramshackle mining settlement, tarps stretched over tree poles. Soon, the marines were firing into the air, the miners and their families were on the run, and the rangers were moving in with machetes.

They speared bags of rice and plastic barrels of drinking water, kicked aside toys and smashed tools before setting everything on fire. High above the Amazon rain forest, home to trees that are more than 1,000 years old, heavy plumes of black smoke spiraled toward the clouds.

Trying to protect one of the most biologically diverse places on earth from an army of illegal miners that has carved a toxic path through the rain forest, the Peruvian government is setting up outposts and stepping up raids along the Malinowski River in the Tambopata Nature Reserve.

But some experts wonder whether it is far too little too late.

To get here, a remote front line in Latin America’s battle against illegal mining, I hiked nine and a half hours through the jungle, at times in water up to my armpits. But any sense of being in a pristine wilderness was lost at the river’s edge. Already, the miners had done so much damage that the water ran the color of milky coffee. The landscape was worthy of a “Mad Max” movie. Huge sandy craters, mounds of pebbles and poisoned waterways were everywhere. Garbage — rags, plastic bags, plastic foam food containers — clung to the freshly cut tree branches piled up in the river’s nooks and crannies.

Written by SUZANNE DALEY; Photographs by TOMAS MUNITA

VER MATÉRIA COMPLETA EM: Peru Scrambles to Drive Out Illegal Gold Mining and Save Precious Land – The New York Times (nytimes.com)

Peru desloca Exército, mas não consegue impedir garimpo e desmatamento na Amazônia

A ação teve início ao amanhecer. Em quatro pequenos barcos de madeira, guardas florestais e fuzileiros peruanos, checando e rechecando suas armas automáticas, desciam silenciosamente o rio na direção de um garimpo de ouro ilegal.

Eles não precisaram ir muito longe. Virando a primeira curva se encontrava um periclitante assentamento de garimpo, com lonas esticadas sobre três postes. Os fuzileiros logo passaram a disparar para o ar, e os garimpeiros e suas famílias saíram correndo em fuga, enquanto os guardas florestais avançavam com facões.

Eles furaram sacos de arroz e tambores de plástico de água potável, chutaram de lado brinquedos e quebraram ferramentas antes de botar fogo em tudo. Acima da floresta tropical amazônica, lar de árvores com mais de 1.000 anos de idade, nuvens de fumaça preta subiam em espiral ao céu.

Na tentativa de proteger um dos locais de maior diversidade biológica do planeta do exército de garimpeiros ilegais que abriu uma trilha tóxica pela floresta tropical, o governo peruano está montando postos avançados e intensificando as batidas ao longo do rio Malinowski, na Reserva Natural de Tambopata.

Mas alguns especialistas se perguntam se é muito pouco, tarde demais.

Para chegar aqui, uma frente remota na batalha da América Latina contra a exploração ilegal de minérios, eu caminhei por 9 horas e meia pela selva, às vezes com água até as axilas. Mas qualquer sensação de estar em meio à natureza imaculada desaparecia às margens do rio. Os garimpeiros já tinham causado tanto estrago que a água corria com cor de café com leite.

A paisagem mais parecia de um filme da série “Mad Max”. Imensas crateras arenosas, montes de pedrinhas e canais envenenados estão por toda parte. Lixo (trapos, sacos plásticos, caixas de isopor de alimentos) se prende a galhos de árvores recém-cortados empilhados nos cantos e recantos do rio.

A quantidade de ouro extraída por garimpeiros ilegais é muito maior do que em qualquer outro local na América Latina. E está crescendo tão rapidamente que os ambientalistas temem que até mesmo uma reserva remota como esta, lar de milhares de espécies de plantas e animais, algumas talvez nem mesmo identificadas pelos seres humanos, tenha pouca chance de sobrevivência.

Os garimpeiros usam tanto mercúrio para processar o ouro que o governo declarou em maio uma estado de emergência na saúde em grande parte da região de Madre de Dios. Testes em 97 vilarejos apontaram que mais de 40% das pessoas tinham absorvido níveis perigosos do metal pesado. O envenenamento por mercúrio afeta as pessoas de muitas formas, de dores de cabeça crônicas a danos nos rins, mas ele é mais nocivo às crianças, que apresentam probabilidade de sofrer danos cerebrais permanentes.

“As próximas gerações pagarão pelo que estamos fazendo agora”, disse Manuel Pulgar-Vidal, que comanda o Ministério do Meio Ambiente peruano.

As estatísticas subestimam a quantidade de extração ilegal. Mas Víctor Torres Cuzcano, um economista da Universidade Nacional Maior de São Marcos, calculou que a extração informal e não registrada aumentou em 540% entre 2006 e 2015, enquanto a extração legal, que gera receita tributária, caiu 28,5%.

“Eu acho que a extração ilegal está minando as atividades legais”, disse Guillermo Arbe Carbonel, um economista do Scotiabank. “Você vê protestos contra a extração legal de ouro o tempo todo. Mas a ilegal está crescendo, e é o pior tipo de extração para o meio ambiente.”

O desmatamento para extração ilegal de ouro acelerou de 2.165 hectares por ano antes de 2008 para cerca de 6.140 hectares por ano após a crise financeira global de 2008, que provocou uma forte alta do preço do ouro.

Há menos de um ano, a Reserva de Tambopata, uma área sem estradas com aproximadamente o tamanho do Estado americano de Rhode Island, parte floresta e parte savana, permanecia intocada. Agora, fotos por satélite mostram trechos de desmatamento na reserva, e tanto garimpo em suas margens que o rio (o Malinowski, que leva o nome de um explorador polonês) mudou de curso, tornou-se mais largo e mais raso. Nas áreas onde os garimpeiros trabalham, dizem os guardas florestais, a água é tão poluída que os peixes desapareceram.

Alguns defensores dizem que a reserva está praticamente perdida. Indícios iniciais sugerem que ela é rica em ouro, especialmente em comparação a outras partes deste Estado remoto, incluindo a área reservada oficialmente para garimpo e a “zona tampão” que faz divisa com a Reserva de Tambopata.

“Eles conseguem de 12 a 18 gramas por dia no corredor oficial de garimpo”, disse Victor Hugo Macedo, que supervisiona a reserva. “Eles conseguem de 60 a 80 gramas na zona tampão, e conseguem de 150 a 200 na reserva. Os garimpeiros se importam mais com isso do que com o que acontece com Tambopata.”

Vistas de perto, as batidas parecem condenadas a fracassar. Os fuzileiros e guardas florestais estão em menor número e pouco equipados. Até mesmo chegar aos seus postos avançados é um desafio. As melhores rotas são controladas pelos garimpeiros e consideradas perigosas demais, até mesmo para soldados armados. Assim, em um dia chuvoso, nós caminhamos por uma trilha estreita do amanhecer até a tarde, mas os soldados não contavam com rádios para pedir ajuda quando ela foi rapidamente inundada por vastos trechos.

Na água que corria cheia de detritos, nós dávamos passos de bebê à procura de apoio sólido para os pés enquanto a floresta tropical se transformava rapidamente em um lago turvo. Sobrecarregados pelo peso das mochilas cheias de água, os soldados carregavam suas armas acima de suas cabeças e tentavam não afundar, nem sempre com sucesso.

O promotor que os acompanha nas batidas estava à frente na garupa de uma moto suja. Mas isso era um luxo. Os guardas florestais contam com apenas quatro motos para cerca de 100 homens posicionados nos dois postos avançados ao longo do rio.

Mas há pelo menos 5.000 garimpeiros ilegais na área, talvez até 10 mil. Após algumas poucas batidas, os fuzileiros ficaram sem dinamite e passaram a recorrer a uma tática menos sofisticada: o uso de marretas para arrebentar os motores de caminhão utilizados pelos garimpeiros para movimentar suas torres de mineração.

Descendo o rio, enquanto os soldados acendiam uma fogueira com várias motos que encontraram, um homem jovem tentou pegar a sua. Forçado a ficar de joelhos, ele disse aos soldados que estava apenas visitando amigos, uma história na qual ninguém acreditou.

Mas não havia a intenção de prendê-lo, nem a ninguém. A quilômetros da estrada pavimentada mais próxima e sem instalações para detenção dos prisioneiros, a logística tornava isso impossível. Como todas as pessoas encontradas, ele não possuía nenhum documento de identidade e foi solto sem nem mesmo uma citação.

Os fuzileiros são realistas. Quando passaram por uma cidade gigante de tendas, com antenas parabólicas e postes para mais habitações em construção, eles seguiram em frente à procura de um alvo mais administrável.

Ao final do dia, os guardas e fuzileiros destruíram mais duas dúzias de acampamentos e 15 torres de mineração, e invadiram garimpos mais bem equipados que os deles. No caminho, os soldados ajudaram a si mesmos, levando consigo um freezer, uma antena parabólica, um videocassete, um televisor, uma bola de futebol, um cachorrinho e um porquinho para o jantar.

À noite, era possível ouvir os sons das torres de mineração reiniciando seus trabalhos.

Por: Suzanne Daley
Fonte: The New York Time/ UOL – Peru desloca Exército, mas não consegue impedir garimpo e desmatamento na Amazônia – 27/07/2016 – UOL Notícias
Tradutor: George El Khouri Andolfato

VER MAIS EM: Amazonia;org.br  (NÃO MAIS DISPONÍVEL)