Estudo deve contribuir com geração de emprego e renda a partir do estímulo à pesca ornamental em Barcelos, no AM

Pesquisa analisa dinâmica populacional do cardinal-tetra para propor medidas que possam auxiliar na regulamentação da pesca de peixes ornamentais.

Para contribuir com a retomada da pesca ornamental em Barcelos, no médio Rio Negro, a doutora em Ecologia, Cláudia Pereira de Deus, está desenvolvendo um estudo, com apoio do Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), para analisar a dinâmica populacional da espécie cardinal-tetra (Paracheirodon axelrodi), ou “neon-tetra”. O estudo deve ser concluído em 2017.

“A exploração de peixes ornamentais na região de Barcelos é histórica e bastante antiga, vem desde os anos de 1950. Atualmente, a atividade é ainda exercida, mas há poucos compradores envolvidos na cadeia produtiva. Com base neste cenário, o que nos motivou a desenvolver essa pesquisa foi a possibilidade de avaliar o atual estado biológico e ecológico das populações da espécie de cardinal-tetra frente a esta estagnação do comércio”, disse Cláudia Pereira.

O estudo deve responder questões sobre como a exploração pesqueira poderia comprometer o bem-estar da espécie; se a espécie tem capacidade de recuperação rápida; qual a função ou papel ecológico do cardinal-tetra na comunidade geral de peixes de igarapés; quais as consequências ecológicas para o sistema caso ocorra o desaparecimento do cardinal-tetra, entre outras perguntas.

“O nosso objetivo é, a partir das respostas a essas questões, poder propor informações que possam ser utilizadas na construção de instrumentos para a regulamentação da pesca de peixes ornamentais na região de Barcelos. Assim, pretendemos contribuir para a retomada desta atividade em bases sustentáveis, proporcionando emprego e geração de renda aos moradores da região do médio e baixo Rio Negro de maneira a garantir também a perpetuação deste recurso pesqueiro”, disse a pesquisadora.

Segundo ela, o tradicional comércio de peixes ornamentais recebeu interferência de diversos lados que vão desde falta de incentivo econômico, passando por queda na demanda, devido à competição no mercado por outros países na América do Sul e mesmo na Europa, até o aumento na criação de espécies amazônicas em cativeiro a custos reduzidos.

“Muitas espécies de interesse ornamental são endêmicas da bacia do Rio Negro e, assim, além de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro também deve ser beneficiada com os resultados dessa pesquisa. Com a reativação da atividade pesqueira ornamental, outros municípios, como Beruri e Lábrea, no rio Purus, Maraã, no Japurá, e Tefé no Solimões, poderão, indiretamente, também ser beneficiados com o aprimoramento dessa atividade”, disse Pereira.

Análises

Formado por pesquisadores, professores e estudantes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (InpaMCTI) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o grupo de pesquisa vem realizando coletas mensais de cardinal-tetra em diferentes igarapés da margem esquerda do rio Negro e em áreas com diferentes históricos de pesca ornamental. Auxiliados por pescadores locais, os cientistas usam o cacuri, uma armadilha artesanal amplamente utilizada pelos piabeiros durante as pescas.

“Os peixes, ao chegarem ao laboratório de Ecologia de Peixes do Inpa, são medidos, pesados e, com o auxílio de uma lupa, são feitos todos os procedimentos para análise da reprodução da espécie. Ainda é cedo para afirmarmos quando a espécie se reproduz, mas, aparentemente,  a reprodução ocorre mais de uma vez ao ano e a enchente é um desses períodos quando a reprodução é mais intensa, pois  começamos a observar um número maior de fêmeas ovadas nesta fase do ciclo hidrométrico”, disse a bióloga.

Francisco Santos / Agência Fapeam

 

 

 

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