Maiores vítimas do desmatamento da Amazônia são as espécies raras

A floresta amazônica abriga muitas espécies. Tantas que a ciência ainda não conseguiu descrever todas elas. Com o avanço do desmatamento, pode ocorrer uma pasteurização dessa diversidade, com os animais mais raros perdendo seus habitats para os animais comuns. Essa simplificação da vida na floresta é chamada de “homogeneização biótica”, e um estudo, publicado nesta segunda-feira (24) na revista científica Ecology Letters procurou avaliar se esse fenômeno está acontecendo nas áreas desmatadas e de degradação florestal na Amazônia.

Cabeça-de-prata, uma espécie de pássaro que só existe no Brasil (Foto: Alex Lees)
Cabeça-de-prata, uma espécie de pássaro que só existe no Brasil (Foto: Alex Lees)

 

Essa simplificação acontece porque as espécies têm estratégias diferentes de sobrevivência. Algumas são especialistas. Elas só sobrevivem em um local muito específico, com uma dieta restrita. Outras são generalistas. Têm hábitos alimentares mais variados e se espalham por muitas áreas. As duas estratégias funcionam bem, até a ação humana começar a alterar os ecossistemas. O desmatamento de uma área compromete a sobrevivência dos especialistas e abre espaço para os generalistas. Por isso, a paisagem começa a ficar homogênea: apenas um tipo de espécie sobrevive.

O estudo How pervasive is biotic homogenization in human-modified tropical forest landscape? Tentou avaliar se essa homogeneização está de fato acontecendo na Amazônia. Por isso, os pesquisadores coletaram amostras e contaram espécies de pássaros, besouros, plantas, abelhas e formigas em 335 locais da Amazônia nas regiões de Paragominas e Santarém, no Pará, num total de 3 milhões de hectares. Essas áreas foram divididas de acordo com o estado de conservação: desde florestas primárias, que não sofreram nenhum tipo de degradação, até áreas completamente desmatadas, passando por todos os estágios entre eles.

Sem grandes surpresas, o estudo identificou que áreas de florestas que foram totalmente substituídas pelo pasto ou agricultura sofreram com essa simplificação da biodiversidade. Caiu o número de animais e plantas nessas áreas, e não há diversidade entre as espécies de uma área desmatada para outra – são praticamente os mesmos tipos de abelhas, formigas e pássaros que aparecem em áreas desmatadas diferentes.

A surpresa aconteceu quando se analisou os dados das áreas florestais degradadas. As florestas com degradação por fogo ou retirada de árvores também contam com menos espécies. Mas mesmo assim nestas áreas há mais diversidade entre elas. São locais que ainda não estão homogêneos.

Segundo o pesquisador da Universidade Federal de Viçosa Ricardo Solar, autor principal do estudo, esses resultados têm implicações importantes nas políticas brasileiras para a proteção da floresta. Uma delas é que vale a pena preservar mesmo áreas em alto estágio de degradação. “O ideal é evitar o degradação, porque ela diminui o número de espécies. Mas uma vez que a área já foi degradada, ainda assim é importante manter essa área para conservação”. Hoje, essas áreas são preteridas para concentrar mais esforços na proteção de florestas intocadas.

Outra implicação diz respeito na forma como os produtores rurais estão cumprindo o Código Florestal. Pelo código, o produtor pode recompor uma área de floresta desmatada em outro local, fora de sua fazenda. “Em municípios que já estão muito desmatados, é comum ver os fazendeiros comprando cotas de floresta todas concentradas em uma única parte do município. O que o nosso estudo diz é que essa concentração de reservas não é tão efetiva. Seria mais efetivo se cada fazenda mantivesse sua reserva florestal”, diz. Desta forma, mesmo com a legislação brasileira permitindo o desmatamento, por meio do Código Florestal, seria possível proteger um maior número de espécies da Amazônia.

Por: Bruno Calixto

Fonte: Revista Época

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