Sistema de vigilância não consegue detectar clareiras com área menor do que 25 hectares e faz com que perfil das derrubadas da floresta se transforme em menos de uma década
Uma fragilidade no sistema brasileiro de vigilância da Amazônia está transformando o perfil das áreas desmatadas na maior floresta tropical do mundo. Até o início da década passada, mais de 70% das áreas desflorestadas da Amazônia tinham mais de 25 hectares. Em geral, o desmatamento era realizado em larga escala, em áreas conjuntas, que atingiam grandes extensões de terra. Com a implantação de um sistema de vigilância por satélite, ficou mais fácil para os órgãos ambientais localizarem as áreas desmatadas e punir os criminosos. Em uma década houve uma redução da taxa anual desmatada de cerca de 80% O problema é que os satélites empregados para fazer essa vigilância só conseguem identificar desmatamento exatamente em áreas superiores a 25 hectares, algo como 20 campos de futebol. Com isso, em menos de 10 anos o desflorestamento de áreas menores já representa mais de 50% de toda a área devastada na Amazônia.
“Há uma limitação técnica e humana que facilita a ação ilegal na região” explica Juliano Assunção, professor da faculdade de economia da PUC-Rio e representando no Brasil do Climate Policy Initiative (CPI), uma ONG de origem norte-americana. “E os infratores se aproveitam dessa brecha para continuar a atividade ilegal sem serem percebidos, usando uma dinâmica diferente, de abrir clareiras em pequena escala, porém disseminadas”, conclui.
Áreas desmatadas de até 25 hectares são de difícil identificação nas imagens de satélite que monitoram a região. A baixa resolução das imagens somada à falta de estrutura humana no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe (órgão responsável pelo monitoramento via satélite) negligenciam essas áreas que, apesar de extensas em medição absoluta, representam pequenos pontos na extensão continental da maior floresta tropical úmida contínua do mundo.
A preservação de áreas florestais tem influencia direta na redução de emissões de CO2, já que elas capturam um dos principais gases que causam o efeito estufa. Áreas descobertas significam mais gás carbônico sendo liberado, contribuindo nas alterações climáticas.
Políticas de combate ao desmatamento aliadas a um sistema de monitoramento de áreas por satélite, que denunciam as grandes clareiras na região, conseguiram frear a derrubada de áreas florestais. A presidente Dilma Rousseff, apesar de não ter assinado a “Declaração de Nova York sobre Florestas”, durante a Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2014, em que mais de 30 países se comprometeram a reduzir pela metade a destruição das florestas do mundo até 2020 e zerar por completo o desmatamento até 2030, declarou em discurso na Casa Branca em junho deste ano, ao lado do presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que o país tem a intenção cumprir os compromissos do documento e zerar o desmatamento no Brasil nos próximos 15 anos.
Por: Ana Carolina Nunes
Fonte: IstoÉ
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