Índio chama atenção dos franceses e fala sobre parceria com o Google

Um índio chamou a atenção do público hoje no espaço do Brasil no Salão do Livro de Paris. No começo da noite, Almir Narayamoga, líder da tribo Suruí, de Rondônia, foi a grande estrela da mesa que ainda contou com a antropóloga Betty Mindlin e mediação do jornalista Paulo Paranaguá.

Betty Mindlin, Almir Narayamoga, Guiomar de Grammont, curado do espaço brasileiro no Salão, e Paulo Paranagrá/ Foto: divulgação
Betty Mindlin, Almir Narayamoga, Guiomar de Grammont, curado do espaço brasileiro no Salão, e Paulo Paranagrá/ Foto: divulgação

Centrando a discussão sobretudo em temas amazônicos, após uma longa explanação de Betty acerca da região, foi vez de Narayamoga dar a palavra para um público superior a cem pessoas, que lotou o espaço destinado à apresentação. Salientou que sua tribo tem um plano de longo prazo para sanar os problemas existentes na floresta e chamou atenção ao destacar a parceria com o Google, que instruiu índios para colocar informações a respeito da cultura local na Internet.

“Perguntaram se a tecnologia não iria acabar com nossa cultura. Respondi que a cultura avança, então, precisamos avançar com responsabilidade. A tecnologia nos dá possibilidades de transmitir informações, conhecimento e até mesmo deixar nossas fotos, por exemplo, para gerações futuras”, argumentou.

Falou também sobre a necessidade de se lutar com dignidade e respeito por um lugar melhor, ressaltando que a floresta amazônica deve trazer soluções para as pessoas, não problemas, em um discurso bastante conciliador. “Precisamos sim dos antropólogos, engenheiros, agrônomos, porque cada pessoa pode contribuir para um mundo mais justo. Os seres humanos vivem em um único planeta, então, todos precisam fazer sua parte”.

O índio ainda se queixou do governo federal. “O direito dos povos indígenas está correndo perigo. Quando um dia apoiamos o PT, pensávamos que também teríamos apoio, mas enganamos a nós mesmos, porque governo é governo”, declarou.

Abordando aspectos econômicos, ressaltou que é importante que haja interesse em, a partir da proteção das matas e das culturas locais, gerar-se meios para que essas áreas sejam financeiramente interessantes para a população geral, tendo a gestão racional do território como sua maior preocupação no momento.

Antes mesmo da mesa começar, Narayamoga, usando sapatos, calça jeans, camisa social, um colar e um cocar, já atraía olhares curiosos. O líder está lançando um livro na França, “Sauver la Planéte”, feito em parceria com a escritora Corine Sombrun. Na obra, explana suas ideias a respeito do meio ambiente, a compreensão indígena do mundo, o potencial da biodiversidade e como a floresta pode ser bem utilizada, desde que haja “cuidado, consciência e união”.

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“O livro é uma ferramenta importante, que pode atingir milhões de pessoas”, declarou em breve entrevista ao UOL. Ao ser indagado dos motivos que o levaram a lançar a obra na França, não no Brasil, Narayamoga sorriu e disse: “a oportunidade apareceu aqui, não lá, falta mesmo informações para os índios no Brasil, falta falar dos acessos, dos caminhos para as coisas”.

Sobre sua participação no Salão, afirmou ser uma grande chance para divulgar suas ideias. “No Brasil, precisamos de mais oportunidades como essa”.

Por um problema da organização do evento, a mesa entre Narayamoga, Betty e Paranaguá não contou com tradutor, o que causou certo desconforto principalmente à plateia. Para que o escritor compreendesse o que seus colegas falavam em francês, uma senhora se dispôs a ajudá-lo fazendo uma versão simultânea ao pé de seu ouvido esquerdo.

Rodrigo Casarin – Em Paris, para a cobertura do Salão do Livro, Rodrigo Casarin está hospedado a convite da rede Accor. 

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