Em evento sobre a Amazônia em Paris, índios dizem temer segundo governo Dilma

A proteção das florestas e das populações indígenas está em destaque em Paris. Até o dia 6 de dezembro, acontece a Quinzena da Amazônia, um momento de conscientização internacional sobre as ameaças que colocam em risco a sobrevivência das tribos, em especial os Ashaninka, que vivem entre o Peru e o Acre.
Quinzena Amazônia

Quinzena Amazônia
Três importantes lideranças indígenas, Benky Piyako, Puê Puyanama e Walter Luiz Shipibo, vieram à capital francesa para o evento. Benky e Puê são brasileiros e chamam a atenção para o aumento da violência na fronteira entre o Brasil e o Peru, promovida por madeireiros e narcotraficantes, que invadem as áreas indígenas. Em setembro, quatro índios foram mortos, entre eles um destacado líder.

“Em setembro, teve esse episódio que, para a gente, foi muito bárbaro. Nunca tinham assassinado ashaninkas, embora a gente saiba que, no Brasil, índios morrem todos os dias por conta dessa situação. De 2001 até 2010, eu sofri risco de morte todos os dias. Eu não sabia se iria sobreviver”, conta Benky. “É até difícil relatar a dimensão da situação. De 2001 para cá, temos enfrentado uma luta muito forte contra as madeireiras e o narcotráfico na fronteira, assim como temos enfrentado as políticas dentro do nosso próprio país, tanto no Brasil quanto no Peru. Queremos que o governo assuma as suas responsabilidades.”

Puê Puyanama espera sensibilizar os franceses sobre a falta de segurança dos índios no Brasil.

“Estamos aqui na França buscando aliados no mundo para, juntos, cuidarmos da nossa terra e da nossa vida. As recentes mortes são um alerta para mundo, para que se cuide mais das nossas fronteiras, com mais segurança. A responsabilidade não é só nossa, mas sim do Estado brasileiro”, destaca o índio, de 36 anos. “Esse tipo de coisa ocorreu logo no começo da nossa história e não queremos que volte a acontecer.”

Hidrelétricas

Benky também quer aproveitar a visita à França para divulgar o risco de degradação ambiental devido a obras, como a instalação de hidrelétricas. Ele acredita que os governos europeus não têm informações suficientes sobre a situação dos povos indígenas.

“Vemos a nossa presidente impondo certos empreendimentos onde há reservas extrativistas parques nacionais, terras indígenas, sem a consciência de que aquilo pode trazer grandes problemas não só para os índios, mas como para todo o país, ao destruir tudo o que a gente tem”, lamenta. “Essa nossa viagem é para fazer esse despertar: fazer o governo daqui sentir o que estamos sentindo lá.”

Decepção com o governo

O líder Ashaninka acha que os índios estão “pagando o preço do desenvolvimento do país”. Ele diz ter ficado decepcionado com o primeiro governo da presidente Dilma Rousseff, e teme quatro anos mais nocivos para os povos indígenas.

“O governo foi muito cruel e vai ser mais ainda. Kátia Abreu [provável ministra da Agricultura no próximo governo] está aí, para fazer o papel dela. Se ela realmente for ministra, haverá um choque, porque teremos uma pessoa que é realmente contra a sobrevivência dos povos tradicionais, que vivem da floresta, dos rios, da pesca e da caça”, protestou o líder.

A Quinzena da Amazônia terá shows, exposições, conferências e a venda de produtos indígenas. O evento ocorre em diversos lugares de Paris.

Lúcia Müzell

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