Povo Puyanawa atualiza o Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) de sua Terra Indígena

Com grande participação da comunidade ocorreu durante o mês de setembro uma oficina de revisão do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra Indígena Puyanawa. Por meio de revisão dos mapas temáticos que compõem o PGTA dessa TI, sobre a situação de uso dos ambientes e dos recursos naturais, o Plano foi atualizado em discussão conjunta e avaliação da situação destes recursos, bem como das estratégias de relação com o entorno.

A TI Puyanawa tem características particulares em relação à maioria das outras TIs do Acre: fica extremamente próxima a dois municípios, com acesso por via terrestre no extremo oeste do estado do Acre (Mâncio Lima, há 30 minutos e Cruzeiro do Sul, a 90 minutos); tem duas aldeias separadas unicamente por um igarapé e atravessadas pelo ramal rodoviário que vem de Mâncio Lima. Segundo dados da Associação Agro-Extrativista Puyanawa Barão e Ipiranga, 2014, a TI têm 576 moradores, grande parte dos moradores, ou seja, 40% deles são produtores de farinha com boa inserção no comércio de Cruzeiro do Sul.

Foto 1. Comunidade durante atualização do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da terra indígena (Foto:Joseneidy de Oliveira, 2014).
Foto 1. Comunidade durante atualização do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da terra indígena (Foto: Joseneidy de Oliveira, 2014).

O Plano de Gestão Territorial e Ambiental da TI foi elaborado pelos próprios indígenas das aldeias Barão e Ipiranga com o apoio da Comissão Pró-Índio do Acre em oficinas realizadas em 2006. Tem o objetivo de identificar e planejar ações prioritárias visando à melhoria da qualidade de vida da comunidade para os próximos anos. Trazem informações sobre a situação atual, o que se deseja para o futuro e quais ações precisam ser desenvolvidas para isso.

O PGTA foi elaborado em oficinas de etnomapeamento e assessorias aos Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs). Durante as oficinas, os Puyanawa trabalharam o mapeamento participativo, avaliações e diagnósticos de uso da terra e de seus recursos naturais, que geraram informações para a elaboração de mapas temáticos e a construção do Plano de Gestão (PGTA).

Durante esta oficina de atualização do PGTA, o destaque foi o grande interesse e participação da comunidade em geral, principalmente de professores e mulheres que foram bastante ativos nas discussões aportando idéias para melhoria. Um dos temas de grande motivação foi o mapa com a imagem de satélite, onde os participantes decidiram trabalhar melhor o uso da terra com a ajuda do mapa, na identificação dos seus plantios de macaxeira e açudes manejados. As pessoas se mostravam familiarizadas com os temas do plano e o reconheciam como uma ferramenta importante para o desenvolvimento da comunidade.

De volta para Rio Branco as informações contidas nos mapas validadas pelos próprios indígenas, são sistematizadas pela equipe da CPI/AC. É feita a plotagem dos mapas com as informações atualizadas e no final todo esse material é devolvido para a comunidade como apoio para a tomada de decisões e como material didático nas escolas. Por ocasião da festa de inauguração da Arena Cultural, um espaço usado pelos Puyanawa para o trabalho espiritual e festas, o PGTA será devolvido para a comunidade, como uma importante ferramenta de planejamento, monitoramento e vigilância da TI.

A importância desse plano é o fortalecimento que ele traz para a comunidade, de sobrevivência de um povo, de uma organização, de valores que a comunidade tem que aprender. No entanto, o nosso plano ele é uma característica já antiga, só que ainda não foi colocado no papel, então é uma forma de se organizar a cada momento, a cada tempo que passa, e daí a gente coloca uma vivência de um povo indígena dentro de um documento com um eixo temático, que se refere à educação, saúde, envolve tudo dentro de um planejamento do plano de gestão das comunidades. Acho que a comunidade ganha muito, a partir que passa a ter suas idéias com o plano de uso dos recursos naturais, que vem sendo aplicado e utilizado. Então ele passa a ser utilizado de maneira mais organizada, nós aqui Puyanawa, desde 2006 conseguimos organizar muita coisa, a partir de um objetivo que nós decidimos fazer, então cada um faz seus deveres, nas funções que exerce, e daí a gente se organizar a cada tempo do mês, do ano, pra gente ter esse diagnóstico junto à comunidade.

Os mapas trazem uma segurança no que se refere a distância, local, os pontos da comunidade, caça, plantação doméstica e nativa, frutíferas nativas e domesticadas, cada ponto de invasão, temos tudo no papel, os mapas são como se fossem um avião que a gente pode andar rapidinho é como a gente anda no mapa, é um pensamento, olhar. O mapa é um olhar, um sonho aonde tá a comunidade, então tem um valor importante.

Foto 2. Revisão dos mapas temáticos da comunidade (Foto: Joseneidy de Oliveira, 2014).
Foto 2. Revisão dos mapas temáticos da comunidade (Foto: Joseneidy de Oliveira, 2014).

ASSESSORIA TÉCNICA AOS AGENTES AGROFLORESTAIS INDÍGENAS (AAFIs)

No período de permanência da equipe da CPI/AC na TI foi realizada assessoria técnica aos AAFIs da TI. As viagens de assessoria são feitas por membros da equipe técnica da CPI/Acre para as TIs como uma das modalidades da formação dos Agentes Agroflorestais e são, também, uma oportunidade de acompanhar e avaliar o trabalho desenvolvido por eles na comunidade, sua relação com esta e com as lideranças. Com as assessorias são aprimoradas técnicas de produção, sempre valorizando os conhecimentos indígenas, envolvendo diversas pessoas da comunidade nas atividades e discussões. Também, como consta na proposta curricular de AAFIs.

Durante a assessoria foram desenvolvidas atividades de interesse da comunidade, como relatado pelo AAFI José Marcondes Rosa, da aldeia Ipiranga:

Nós sentamos com os responsáveis pela escola para fazer o planejamento das atividades que seriam executadas com os alunos da escola, 4 salas de ensino fundamental e 3 salas do ensino médio. Depois fomos fazer visita no açude, marcar pontos com o GPS na aldeia Ipiranga e depois na aldeia Barão. Fomos na escola pela manhã para iniciar as atividades, trabalhar na construção da horta, plantamos muitas sementes explicando qual a importância desse trabalho de horta orgânica na alimentação. Trabalhamos na construção do viveiro na aldeia Ipiranga com as 4 turmas do ensino fundamental. Fomos até o local do viveiro enchemos sacos, enchemos dois canteiros, duas sementeiras e plantamos uma variedade de espécies de madeira e frutíferas. No dia seguinte nos reunimos na escola, as duas turmas, para fazer o levantamento e o diagnóstico de todos os quintais da TI. Com a turma do ensino médio construímos o viveiro na aldeia Barão, na casa do AAFI Lucas. Plantamos espécies variadas em três canteiros e uma sementeira. Depois reunimos todas as turmas e fizemos uma avaliação das atividades realizadas.

Foto 3. Levantamento das espécies presentes nos SAFs e quintais agroflorestais da TI Puyanawa (Foto: Joseneidy de Oliveira, 2014).
Foto 3. Levantamento das espécies presentes nos SAFs e quintais agroflorestais da TI Puyanawa (Foto: Joseneidy de Oliveira, 2014).

As práticas foram dirigidas pelos AAFIs das duas aldeias da TI (Barão e Ipiranga) e contou com distribuição de sementes e mudas de espécies florestais e frutíferas que serão utilizadas para o enriquecimento dos quintais e sistemas agroflorestais, fortalecendo, assim, ações de segurança alimentar. Nas práticas da assessoria, além dos AAFIs, houve grande interesse, participação e dedicação dos estudantes e professores do ensino fundamental e médio e de outros membros da comunidade e servirá de apoio para as discussões sobre a regionalização da merenda escolar, como também para aulas de ciências da natureza da Escola Estadual da Terra Indígena.

 A TI Puyanawa recebeu dois assessores da CPI que vieram diretamente para a aldeia Ipiranga. Eles trouxeram 605 mudas de várias espécies: açaí, laranja, limão, araçá boi, cacau, pupunha, mogno, cerejeira, jatobá e etc. Estas serão divididas entre as duas aldeias para fazer plantio. Também trouxeram ferramentas como carro de mão, enxada, pá, rastelo e etc.

Foto 4. Alunos do ensino médio durante construção do viveiro na aldeia Barão (Foto: Joseneidy de Oliveira, 2014).
Foto 4. Alunos do ensino médio durante construção do viveiro na aldeia Barão (Foto: Joseneidy de Oliveira, 2014).

As ações desenvolvidas durante a visita à TI pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI/AC) estão incluídas nos objetivos do projeto “Gestão Indígena no Acre” patrocinado pelo programa Petrobras Socioambiental.

COLABORAÇÃO:

Billyshelby Fequis

Setor de Geoprocessamento (SEGEO)
Comissão Pró-Índio do Acre  (CPI-AC)
Rio Branco – Acre – Brasil
Estrada AC 90, caixa postal n°61, Rio Branco – Acre, CEP: 69.900-000
+55 (68) 3225 1952/ 92012438
Skype: billy.fequis

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