Inpa participa de projeto científico e expedição que avaliará quantidade de mercúrio no rio Negro

A coordenação das atividades de pesquisas, no Amazonas, ficará a cargo do pesquisador do Inpa Ezio Sargentini. As atividades prosseguem até o próximo dia 2 de novembro nas comunidades do Livramento, Santa Izabel do Apuaú e Carvoeiro.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) participa, com os pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista, por meio do Instituto de Química de Araraquara (IQ-Ar/Unesp) e da empresa Venturo Análises Ambientais, de uma expedição técnico-científica pela bacia do rio Negro para avaliar a quantidade de mercúrio. Nesta etapa, serão feitas coletas de amostras de peixes e de leite materno para o desenvolvimento das pesquisas.

O projeto científico intitulado “Biomarcadores de toxidade do mercúrio aplicados ao setor hidrelétrico na região Amazônica” tem como objetivo desenvolver e validar as metodologias em busca de uma metaloproteína que possa ser um biomarcador de toxidade do mercúrio em peixes e em seres humanos.

Para o desenvolvimento desse novo biomarcador, a pesquisa irá utilizar uma tecnologia chamada Metalômica onde são separadas as suas proteínas para depois buscar possíveis metaloproteínas (proteínas que contém um ou mais íons metálicos em sua estrutura). É uma interface entre a biologia e a química analítica. Já os biomarcadores metalômicos são indicadores que sinalizam eventos ou acontecimentos em sistemas biológicos associados aos efeitos ambientais.

“Quando tivermos identificados os biomarcadores da toxicidade do mercúrio será possível criar indicadores de vigilância ambiental rápidos e seguros, pois é importante para o setor hidrelétrico ter informações das reais alterações do ambiente e fazer um desenvolvimento mais sustentável possível”, ressalta o coordenador do projeto, o pesquisador da UnB Luiz Fabricio Zara.

As coletas de amostras de leite materno serão feitas na comunidade do Livramento, situada na margem esquerda do baixo rio Negro, no igarapé do Tarumã-Mirim, na Reserva Sustentável do Tupé; e em Santa Izabel de Apuaú, localizada no médio rio Negro, distante de Manaus cerca de três horas. As amostras de peixe, especificamente o tucunaré (Cichla spp) serão coletadas nas proximidades da comunidade de Carvoeiro, no médio rio Negro, próximo ao município de Barcelos. As atividades iniciaram no dia 20 de outubro e prosseguem até o próximo dia 2 de novembro.

O projeto, que tem duração de quatro anos para concluir os estudos, teve início em 2013 pela bacia do rio Madeira, em Rondônia, e agora é estendido à bacia do rio Negro, no Amazonas, para a coleta de peixes, e iniciando os estudos com leite materno. A pesquisa será desenvolvida em três eixos temáticos: aspectos ambientais e a dinâmica do mercúrio; metalômica e ictiofauna; metalômica e leite materno. A metalômica é uma ciência nova que agrega a química analítica, bioquímica e química inorgânica.

A coordenação das atividades de pesquisas, no Amazonas, ficará a cargo do pesquisador Ezio Sargentini, do Laboratório de Química Analítica Ambiental, da Coordenação de Dinâmica Ambiental/Inpa. “As pesquisas nas regiões com maior isolamento no médio rio Negro serão articuladas juntamente com o serviço de saúde, que ajudará na coleta de amostras de leite das lactantes por terem uma alimentação rica em peixes, que é uma importante fonte natural de exposição ao mercúrio”, diz o pesquisador e doutor em Química Analítica, Ezio Sargentini.

O pesquisador Wilson F. Jardim, da Unicamp, explica que na Amazônia os altos teores de mercúrio encontrados em solo, sedimentos, peixes e seres humanos inicialmente foram atribuídos às atividades de garimpos de ouro. Estudos recentes mostraram que as altas concentrações de mercúrio nos compartimentos abióticos (organismos não vivos) e bióticos (organismos vivos) são também encontradas em regiões sem fontes antrópicas (relativa ao homem), por causa da influência do ciclo global do mercúrio ocasionando um maior teor desse metal em seu estoque natural na Amazônia.

“O fato é que independentemente da fonte de contaminação, estudos relacionados à elucidação dos mecanismos de toxidade do mercúrio na ictiofauna e nas populações ribeirinhas são de fundamental importância para o desenvolvimento do setor hidrelétrico na região Amazônica”, esclarece pesquisador Julio Cesar Rocha, da Unesp.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2008/2009), o amazonense tem um dos maiores consumos per capita de peixe do país, sendo estimado em cerca de 30 kg anualmente, enquanto a média nacional, segundo dados do Boletim do Ministério da Pesca e da Aquicultura (2012), é de 9,4 kg por ano.

“O que estamos buscando é uma ferramenta que possibilite monitorar rapidamente qualquer alteração no ambiente, principalmente com riscos à população”, esclarece o pesquisador Ademir dos Santos, da empresa Venturo Análises.

Sobre o projeto

O projeto é regulamentado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Anell) e desenvolvido no âmbito do Programa P&D nº 6631-0001/2012, da Energia Sustentável do Brasil S/A (ESBR), com investimentos de R$ 4.730.200,08 na qual tem como gerente de projeto, Paulo Sado (ESBR), e como coordenador o pesquisador da UnB Luiz Fabricio Zara.

A rede de trabalho é formada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa/MCTI), Instituto de Química de Araraquara (IQ-Ar/Unesp), o Instituto de Biociências de Botucatu (IB/Unesp), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e Venturo Análises Ambientais.

As áreas de estudos previstas no projeto contemplam as bacias dos rios Negro, Juruá e Solimões (Amazonas), Branco e Purus (Acre), Madeira, Mamoré e Beni (Rondônia), Teles Pires (Mato Grosso), Tapajós (Pará) e Tocantins (Maranhão e Tocantins).

Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa

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