Pesquisadores constatam que a contaminação deixada por petrolíferas é generalizada na Amazônia peruana

Um novo estudo que avaliou registros de poluição na Amazônia peruana nos últimos 30 anos revelou a contaminação generalizada por metais pesados de uma área com diversidade biológica e cultural incomparáveis, abrigando as últimas tribos indígenas que ainda não foram contatadas. 

O trabalho foi apresentado nesta quinta-feira (12) durante a Conferência Goldschmidt – principal encontro anual do setor de geoquímica –, em Sacramento, Califórnia.

Grande parte das florestas tropicais do mundo contém reservas enormes de petróleo e gás, e, assim, são alvo constante de empreendimentos de exploração das suas riquezas minerais. Além do Peru, Equador, Brasil, Bolívia e Colômbia também sofrem com a ausência de fiscalização e permissividade quanto à busca pelo petróleo.

Na Amazônia Ocidental, a produção de petróleo iniciou na década de 1920 e teve seu pico nos idos de 1970, mas a crescente demanda global atual está estimulando a retomada da exploração em altos níveis. Quase 70% da Amazônia peruana foi explorada na busca por petróleo entre 1970 e 2009.

Agora, pela primeira vez, um grupo de pesquisadores espanhóis compilou uma base de dados com análises químicas coletadas na área entre 1983 e 2013. Estas análises provem de várias fontes, incluindo agência públicas peruanas e as próprias companhias petrolíferas.

O estudo ressalta que, apesar de os resultados precisarem de mais detalhamento, eles apontam preocupações significativas ao terem avaliado mensurações de 18 locais de despejo de efluentes em dez tributários diferentes da Amazônia.

“Conseguimos juntar registros ao longo de um período de 30 anos, entre 1983 e 2013, o que nos permitiu medir as variações em nove poluentes diferentes, como chumbo, mercúrio e cádmio. Descobrimos que 68% das amostras estavam acima dos limites atualmente permitidos no Peru para as concentrações de chumbo, e 20% acima para os níveis de cádmio”, alertou o pesquisador Raúl Yusta Garcia.

Eles também conseguiram comparar a poluição à montante e à jusante de determinados locais de despejo. Em algumas amostras, foram encontrados níveis de cloro em média 11 vezes maiores à jusante do que à montante.

A poluição da extração do petróleo caiu em torno de 2008, mas a preocupação é que o aumento da demanda cause mais poluição, ressaltou Garcia.

“Até agora não há estudos publicados que relatem o impacto da poluição das atividades de extração em florestas pristinas remotas. Nossos resultados mostram que a contaminação é generalizada nestas áreas. Este aumento nos níveis de poluição não tem a ver apenas com vazamentos de óleo, mas com os processos de perfuração e extração”, explicou o principal autor do estudo, Antoni Rosell-Mele, da Universidade Autônoma de Barcelona.

“Até agora, estes processos não têm sido efetivamente monitorados em áreas remotas. Parte desta poluição pode acabar na cadeia alimentar humana e algumas áreas afetadas pelos vazamentos são locais de alimentação da vida selvagem, incluindo espécies ameaçadas”, completou.

Em entrevista ao New Scientist, Rossell alerta também que ninguém sabe o quão generalizados são os vazamentos que ainda acontecem na região, pois os dutos que cortam a florestas frequentemente estão enferrujados e seria virtualmente impossível monitorá-los. Ele afirma que, em alguns locais, o solo está tão saturado de óleo que é preciso apenas cavar um pouco para que jorre na superfície.

Referência: Widespread oil pollution in the Amazonia?

R. YUSTA1, M. ORTA-MARTÍNEZ1, 2, P.G. MAYOR3 , N. MORALEDA1 AND A. ROSELL-MELÉ1,4 1Institut of Environmental Science and Technology, Universitat Autònoma de Barcelona, Bellaterra, Catalonia, Spain 2Centro di Documentazione sui Conflitti Ambientali, Roma, Italy 3Dept. Sanitat i Anatomia Animals, Universitat Autònoma de Barcelona, Bellaterra, Spain 4ICREA, Barcelona, Catalonia, Spain

Por: Fernanda B. Müller Fonte: Carbono Brasil 

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