Boa Vista tem a maior população indígena urbana de Roraima

Boa Vista é maior aldeia urbana de Roraima. A capital roraimense é o destino da maioria dos indígenas que deixa as malocas para tentar a vida na cidade, conforme dados do Censo Demográfico 2010, do IBGE.  Em todo o Estado, existem 49.637 de uma população com pouco mais de 460 mil habitantes. A maior parte se concentra no interior, 41.426, enquanto 8.212 vivem na zona urbana dos municípios. A zona rural de Pacaraima é a localidade onde mais se concentra indígenas, com 8.430. No Dia do Índio, comemorado no sábado, 19, os indígenas da cidade aproveitaram para comemorar e também reivindicar melhorias para as comunidades. O presidente da Associação Estadual Indígena Kuaikri de Roraima (Aeikrr), Gustavo Gomes, criticou a falta de apoio dos governantes em vários setores como saúde, educação e oportunidade de trabalho. 

Durante evento realizado na sede da Aeikrr, no bairro Raiar do Sol, Gomes ressaltou a falta de escolas e de um local específico para as crianças indígenas. “Nós queremos uma feira para que o índio possa expor seus produtos e ganhar dinheiro”. Ele afirma que falta oportunidade de emprego e criticou o estereótipo de que o índio seria ‘preguiçoso’. “O índio trabalha de das 6h às 18h, de sol a sol”, ressaltou.

A disponibilidade de postos de saúde também é questionada pelo presidente. Conforme ele, não há unidades suficientes para atender a demanda de índios no Estado. “Gostaríamos que as autoridades competentes olhassem para os indígenas”, pediu. Falou que nas comunidades indígenas a realidade é totalmente diferente daquela apresentada à população pelos governantes.

O líder indígena observou ainda que a situação de quem deixa as aldeias para se aventurar nas áreas urbanas em busca de alimentos e oportunidades também é difícil. “Quando chegam à cidade, se deparam com a falta de moradia e emprego”, citou. Recentemente, índios Yanomami ocuparam uma área na Feira do Produtor. Feirantes afirmaram que não era a primeira vez a presença dos índios no local consumindo cachaça e pedindo comida.

Essa situação dos indígenas que se aventuram em Boa Vista já chegou a provocar tragédias. No final do ano passado, um indígena de 21 anos caiu do viaduto Pery Lago, no bairro São Vicente. Ele teria feito uso de bebida alcoólica pouco antes de morrer. A Fundação Nacional do Índio (Funai) havia se comprometido em retirar os indígenas e devolvê-los as comunidades.

VOTO – Os indígenas também vêm acumulando conquistas. Os Yanomami do Baixo Mucajaí e do município de Alto Alegre, por exemplo, terão uma seção para as próximas eleições. Antes os cidadãos precisavam percorrer quase cinco horas de viagem de carro e barco para chegar a Boa Vista. A seção funcionará no Posto de Saúde da comunidade do Sikamabiu.

LÍDERANÇAS – A Folha tentou contato com as lideranças indígenas da Sodiur e da Cir para ouvir sobre a situação dos indígenas no Estado, mas devido ao feriado prolongado, não foi possível encontrá-los.

Festa tem caxiri, concursos e gincana

 

O Dia do Índio foi marcado por eventos em várias regiões do Estado. Em Boa Vista, muitas comunidades foram convidadas a participar de um encontro na sede da Associação Indígena Kuaikri, localizado no bairro Raiar do Sol, zona Oeste. Na ocasião, lideranças aproveitaram para passar mensagens aos representantes e debateram sobre as situações vividas pelos povos.

O coordenador do Movimento para Políticas Justas e Solidárias (Mpjus) Denis de Almeida explicou que a intenção da celebração da data era de reunir todos os parentes para práticas de atividades coletivas e demonstração de artesanato de cada localidade. “É importante o povo estar reunido para que a cultura permaneça viva, pois nem sempre podemos estar juntos. É um dia também para difundir a política indigenista”, concluiu.

Iniciado às 8h da manhã, os participantes realizaram oito provas, entre elas, tiro ao alvo com arco e flecha e a ingestão de um litro de caxiri. À tarde, houve concurso de Damorida, culinária típica indígena, índia caracterizada, concurso de artesanato e melhor grupo de parixara.

Desocupação da área Yanomami é prevista para o dia 31 de maio

 

Mais dois fazendeiros foram retirados da Terra Indígena Yanomami, na região do Ajaraní, no município de Caracaraí, região Centro-Sul do Estado. A ação aconteceu no sábado, Dia do Índio, e foi considerada mais um passo de conquista para os povos daquela região, segundo o coordenador da Frente de Proteção Yanomami da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Catalano.

Essa desocupação faz parte de um cronograma estipulado no início do ano passado dentro do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) do Ministério Público Federal (MPF), Funai e Advocacia Geral da União (AGU). No total, 12 fazendas pertencentes a não-índios estavam dentro da reserva indígena. Após a ação de sábado, mais três fazendas serão totalmente desocupadas no dia 31 de maio.

Catalano explicou que as propriedades foram ocupadas de boa-fé, ou seja, antes da demarcação da área. “Havia uma questão quanto aos custos que a Funai iria indenizar. Fizemos os depósitos em juízo, daí não havia mais impedimento para retirada desses fazendeiros”. Segundo o coordenador, no dia 31 de maio, com a saída dos três últimos proprietários, a área estará livre. Uma festa está prevista para encerrar as ações naquela localidade.

Os proprietários das terras desocupadas receberam as indenizações e alguns, conforme o coordenador, foram remanejados para áreas de assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Estado. “O desafio da Funai agora é aproveitar as benfeitorias que foram deixadas lá assim como recuperar as áreas degradadas”, destacou. A retirada de não-índios, concluiu Catalano, é realizada de forma tranquila.

Por: Yasmin Guedes   –   Jornal Folha de Boa Vista

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