Prossegue a turnê europeia de Raoni

Em sua turnê pela Europa, o cacique Raoni tem intensificado a pregação contra os grandes projetos de infraestrutura na Amazônia e pela defesa da expansão das terras indígenas no Brasil. Depois de ser recebido pelo presidente francês François Hollande, o líder caiapó levou a sua pregação a deputados europeus, ativistas ambientais franceses e à União Europeia (EU), e arrecadou fundos para financiar a construção de uma aldeia na fronteira entre Mato Grosso e o Pará, de modo a consolidar a posse dos indígenas sobre uma área em disputa com produtores rurais locais.

Na terça-feira 11 de dezembro, Raoni visitou o Parlamento Europeu em Estrasburgo, como parte da campanha “Amazônia em risco”, que o tem como figura de proa. Na ocasião, pediu aos europarlamentares para pressionarem o governo brasileiro contra a construção da usina hidrelétrica Belo Monte e declarou: “Eu queria pedir a vocês, europeus, para conversarem sobre este problema com o governo brasileiro e pedir que ele nos respeite enquanto povo indígena (RFI, 11/12/2012).”

Raoni aproveitou a oportunidade para acusar as autoridades brasileiras de pretender roubar as terras indígenas e afirmou estar “realmente preocupado com a sobrevivência de nosso povo”. Um dos acompanhantes do cacique no Parlamento Europeu foi a eurodeputada ambientalista Eva Joly, que declarou que Belo Monte é também um problema europeu, na medida em que “são empresas europeias que vão construir a barragem” – em clara alusão ao grupo francês Alstom, dono de um contrato de 500 milhões de euros para produzir duas turbinas para a usina.

Outra acompanhante de Raoni, a eurodeputada Catherine Grèze, igualou Belo Monte a um “cavalo de tróia”. Ela afirmou, ainda, que o projeto hidrelétrico “é apresentado como sendo um projeto de energia limpa, mas na verdade ele abre a porta para a extração de minérios e a destruição da Amazônia”. 

No mesmo dia, assessores de Raoni divulgaram que o cacique conseguiu arrecadar cerca de 18 mil euros, por meio de uma campanha publicitária promovida nos países europeus, com o fim de financiar a construção de uma aldeia na região de fronteira entre Mato Grosso e Pará. A ideia é criar uma espécie de posto de fronteira entre na futura terra indígena Kapotnhinore, onde vive Raoni, e cujo tamanho ainda não foi definido, de modo a fechar o seu acesso aos habitantes das regiões vizinhas, já que a região tem sido alvo de disputas com produtores rurais. A construção da nova aldeia também visa a deixar clara a posse dos índios sobre a área, até que o processo de demarcação da reserva Kapotnhinore seja concluído pela Fundação Nacional do Índio (Funai). 

Segundo Gert-Peter Bruch, presidente da ONG Planète Amazone, uma das organizadoras da turnê de Raoni, “praticamente todo o dinheiro que era necessário para a aldeia já foi arrecadado. Ele ainda garantiu que o todo o dinheiro veio de “doações privadas”, e que nenhuma instituição bancou o projeto (O Estado de S. Paulo, 11/12/2012).

(Já o mesmo não pode ser dito sobre o Instituto Raoni e as ONGs associadas na turnê, como relatado na edição anterior deste Alerta).

A campanha publicitária pela construção da nova aldeia foi dirigida pelo cineasta franco-holandês Jan Kounen e contou com a participação do célebre ator francês Vincent Cassel. A peça de propaganda antibrasileira exibiu imagens de desmatamento, exportação de carne, soja e madeira, de modo a causar forte apelo sentimental e sensação de alarde junto à opinião pública europeia. 

Seria, realmente, interessante presenciar as reações das autoridades e dos setores da sociedade francesa que se arvoram em defensores dos “bons selvagens” da América do Sul, se o governo brasileiro decidisse receber em Brasília representantes dos movimentos separatistas da Bretanha e do País Basco francês, e se fundações privadas nacionais se dispusessem a financiá-los.

FONTE : ALERTA CIENTÍFICO e AMBIENTAL – Ano 19  |  nº 47| 13 de dezembro de 2012

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