RR – Reserva Yanomami – Operação Xawara

A operação Operação Xawara, deflagrada ontem pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal identificou três grupos específicos, com 11 aviões, como principais responsáveis pela garimpagem ilegal na terra indígena Yanomami, que nunca parou de agir, apesar das ações realizadas na reserva para coibir o crime, que exigem o dispêndio de recursos púbicos em grandes valores.

Nos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012 foram realizadas as operações Escudo Dourado II, Serra do Tucano, Baixo Rio Branco e Ágata IV, respectivamente, inclusive com a participação do Exército Brasileiro, o que resultou na detenção de vários garimpeiros. Mas conforme a Polícia Federal, não se conseguiu eliminar a lavra ilegal do ouro e pedras preciosas naquela área indígena.

“A Polícia Federal observou que as operações ostensivas realizadas em área de garimpo, principalmente na Terra Indígena Yanomami, não estavam surtindo o efeito necessário. A paralisação do crime cometido na região com a extração do ouro de propriedade da União continuava. Por isso iniciou-se uma operação de inteligência”, explicou o delegado Ricardo Duarte, que coordena a ação.

Os pilotos que conhecem a região e possuem aeronaves e recursos para fomentar a atividade, com o auxílio dos empresários (joalheiros), acabavam reconduzindo os garimpeiros para os locais anteriormente desocupados antes mesmo do término das operações.

Em novembro de 2011, foi realizada a Operação Baixo Rio Branco, organizada e deflagrada pela Polícia Federal, com apoio do Exército Brasileiro e Fundação Nacional do Índio (Funai). Foi montada uma verdadeira “atividade de guerra”, com a participação de mais de 800 agentes federais e a utilização de helicópteros e aviões.

Nessa operação foram detidos 27 garimpeiros e destruídos vários garimpos ilegais, mas poucos dias depois os locais de lavra ilegal de ouro atingidos foram reativados com o apoio financeiro, material e logístico da organização criminosa investigada na Operação Xawara.  

“Acreditamos que as medidas adotadas através da Operação Xawara serão muito mais eficazes do que as operações ostensivas que, apesar de necessárias, não vinham trazendo a produtividade que esperávamos”, destacou o superintendente da PF, Alexandre Saraiva.

Pilotos e empresários da aviação civil sustentavam o crime

O delegado Ricardo Duarte, coordenador da Operação Xawara, deu detalhes de como funcionava o esquema criminoso investigado por mais de oito meses pela Polícia Federal envolvendo cinco grupos.

Conforme ele, os aviadores levavam os garimpeiros para a Terra Indígena Yanomami – e ainda para outros locais de garimpo do Estado – e cobravam um alto valor pelo frete. As negociações eram para que o montante fosse pago quando o garimpeiro ou o dono da balsa começasse a extrair o ouro. “Ele ficava com a dívida vinculada a esse aviador ou empresário da aviação civil”, completou o delegado.

Quando iniciada a lavra do ouro, que segundo as investigações eram em quantidades volumosas, os pilotos retiravam os garimpeiros da área e trazia-os para Boa Vista. Eles eram então encaminhados para os joalheiros que compravam o ouro ilegal. “Eles [os joalheiros] tinham conhecimento que a origem era ilegal”, afirmou Duarte.

“O crime era sustentado pelos aviadores e empresários da aviação civil do Estado. Três grupos específicos que possuem hoje no total 11 aviões foram identificados. Além dos garimpeiros, eles levavam mercúrio, munição para arma de fogo e cometiam outros ilícitos que sustentam a atividade ilegal de ouro”, ressaltou o delegado da PF.

Segundo Ricardo Duarte, os cinco grupos – três de aviadores, um de joalheiros e um de empresários do ouro e proprietários de balsas e de grandes maquinários – num determinado momento da investigação acabam se encontrando, fechando a “cadeia criminosa”.

“Os joalheiros presos são o ponto de contato dos grupos investigados, seja comprando ouro, seja emprestando dinheiro para os empresários do ouro e para os aviadores, mantendo a atividade criminosa”, detalhou o coordenador da operação Xawara.

Outra questão levantada durante as investigações da PF, é que os pilotos envolvidos utilizavam nos aviões gasolina contrabandeada da Venezuela, fato que chamou a atenção da polícia.

Atividade ilegal causou prejuízos ao meio ambiente e aos indígenas, diz procurador

De acordo com levantamentos da Polícia Federal e da Fundação Nacional do Índio (Funai), a atividade de lavra ilegal de ouro se estende por quase toda a Terra Indígena Yanomami. Existem cerca de 20 garimpos ilegais sendo monitorados pela PF.

A extração ocorre nos leitos dos rios e através do bombeamento do material do fundo deles para a superfície de grandes balsas ou pela lavra em barrancos, causando impacto ambiental muito grande.      

Registros fotográficos feitos pela PF durante as investigações mostram a degradação causada pela extração do minério. O prejuízo ambiental é imensurável e a disseminação de doenças entre os índios Yanomami devido ao contato com o “branco” também é outra preocupação.  

Durante entrevista coletiva à imprensa, o procurador da República Rodrigo Timóteo da Costa e Silva lembrou que este ano a Terra Indígena Yanomami, que têm aproximadamente 96 mil km², completa 20 anos de homologação.

“A área indígena vem reiteradamente sendo aviltada por garimpeiros. As lideranças Yanomami reclamam muito dessa presença de garimpeiros, já que eles sofrem com doenças trazidas por eles e, principalmente, com conflitos étnicos e territoriais”, disse.

ATUALIZAÇÃO

Foram mais de oito meses de investigação que levaram à identificação de cinco grupos criminosos que atuam para manter o garimpo ilegal na reserva indígena, sendo formados por aviadores, empresários ligados ao ramo de joalheria e proprietários de balsas e motores para a extração de ouro.

“É uma operação que pela sua estatura e forma que foi desenvolvida é inédita no Brasil. Pela primeira vez nós logramos alcançar o motor econômico da atividade garimpeira em Roraima”, informou o superintendente da PF, delegado Alexandre Saraiva.

A Justiça Federal expediu 33 mandados de prisão temporária a serem cumpridos em Roraima, no Amazonas e no Mato Grosso do Sul. Até o final da manhã de ontem 25 pessoas haviam sido presas. Uma ordem judicial cassou a licença de oito pilotos presos durante a operação e de um mecânico.

Conforme o coordenador da Operação Xawara, o delegado Ricardo Duarte, durante a operação de inteligência, foi apontado o envolvimento de três empresas que receptavam o ouro, oito pilotos e um mecânico de aeronave que auxiliavam na lavra ilegal do ouro levando insumos para o garimpo e ainda de seis empresários proprietários de balsas e motores para a extração do ouro.

Além dos mandados de prisões, 44 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em empresas de aviação, joalherias e outros. Documentos, anotações, maquinário, ouro e pedras e metais preciosos foram recolhidos. Com um dos garimpeiros presos foram encontrados 6 kg de ouro, com valor estimado de R$ 613 mil, além de dinheiro em espécie.

Também foram concedidas onze autorizações para apreender aviões utilizados para a manutenção do garimpo ilegal. Até ontem, cinco haviam sido encontrados em fazendas ou pistas de pouso clandestinas. Autorização para apreender ainda 12 veículos utilizados pelo grupo foi concedida pela Justiça.

O delegado Ricardo Duarte informou que existiu durante a investigação um longo período de interceptação telefônica autorizada pela Justiça. Os policiais conseguiram fotografar, filmar e presenciar o cometimento de vários crimes pelo grupo identificado.

“A Polícia Federal tem a certeza que o dever institucional foi cumprido porque nós fizemos cessar, se não definitiva, mas por um longo período, a extração do ouro que é de propriedade de todo o povo brasileiro”, ressaltou o coordenador da Operação Xawara.

O procurador da República Rodrigo Timóteo, durante coletiva à imprensa, lembrou que a resolução para a atividade garimpeira ilegal é reivindicação antiga dos indígenas, principalmente dos Yanomami. “Estamos batendo no ponto econômico da quadrilha e esperamos que sem o órgão financiador, os indígenas possam ver banida essa atividade ilegal dentro da sua terra”, destacou.

A operação Xawara continua até que todos os mandados de busca e apreensão e os de prisão expedidos pela Justiça sejam cumpridos. Além dos agentes da Superintendência da Polícia Federal em Roraima, efetivo policial de outras superintendências do país está no Estado e dão apoio durante a ação policial.

XAWARA – É o termo utilizado genericamente pelos índios com o fim de designar a palavra epidemia e para definir as doenças causadas pela fumaça que emana do processo de precipitação do ouro através da queima do mercúrio. (Leia mais na página 11A)

Xawara em números

33 mandados de prisão

44 mandados de busca e apreensão

25 pessoas presas

12 aviões a serem apreendidos

12 veículos a serem apreendidos

6 quilos de ouro retidos

Comparsa do traficante internacional Leonardo Mendonça é um dos presos

Dentre os investigados pela Polícia Federal durante a Operação Xawara, estão pessoas condenadas e investigadas pela prática dos crimes de tráfico de drogas, genocídio, homicídio, contrabando, garimpo ilegal, formação de quadrilha e corrupção passiva e ativa.

O piloto Amarildo Berigó, uma das 33 pessoas com mandado de prisão temporária expedidos pela Justiça Federal, é apontado como comparsa do traficante Leonardo Mendonça, acusado por associação para o tráfico internacional e ainda de comandar uma quadrilha de dentro do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO).

De acordo com investigações, o traficante Leonardo Mendonça e outros envolvidos formaram organização criminosa especializada no tráfico internacional de cocaína colombiana e boliviana, com atuação no Suriname, Venezuela, Guiana, e nos estados de Goiás, Tocantins, Pará, Mato Grosso e também em Roraima.

Ainda entre os presos durante a Operação Xawara está o dono de balsa Pedro Emiliano Garcia, condenado pelo genocídio de índios no caso conhecido por “Massacre de Haximú”, ocorrido em 1993 quando vários índios morreram após confronto com garimpeiros, na reserva Yanomami.

“Não estamos investigando pessoas comuns que participam no garimpo. São criminosos que tem o crime como forma e modo de viver”, ressaltou o delegado Ricardo Duarte, coordenador da Operação Xawara.

Confira o nome dos presos que deram entrada no Sistema Penitenciário:


1. Amarildo Oliveira Berigó – piloto de aviação

2. Jose Joaquim Ortiz – comerciante

3. Ernande Nascimento Anísio – motorista

4. José Aires de Oliveira – autônomo

5. Jorge Nonato Rocha – comerciante

6. Joaquim Oliveira Goularte – aviador

7. José Donizete do Amaral – piloto de aviação

8. Merandolino José Ferreira de Macedo – piloto

9. Nívea Silva de Araújo – vendedora

10. Valdir José do Nascimento – empresário

11. Wanderley Correia da Silva – garimpeiro

12. Raulino Maciel – desempregado

13. Jadir Rodrigues Costa

14. Ivanilde Carvalho Silva

15. Drielly Maria de Castro

16. Maria de Nazaré de Castro

17. Ronisson Gonçalves Lima

18. Rogério Souza da Silva – motorista

VER MAIS EM : http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=132645 – http://www.folhabv.com.br/Editorias.php?id=1

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