O procurador que barrou Belo Monte diz que o governo mente ao classificar esse tipo de energia como sustentável. Ele questiona a inclusão do item que considera hidrelétricas como fontes de energia renovável em documento da ‘Rio+20’
O procurador federal Felício Pontes Júnior descreveu como “mentira contada mil vezes” o discurso do governo federal de que a energia gerada por hidrelétricas, especialmente as construídas nas bacias da região amazônica, seja limpa e renovável. Ele conclamou a sociedade civil a combater a tentativa do governo de incluir em documento oficial da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, um item que considera as hidrelétricas uma energia renovável, tal como a solar, a biomassa e a eólica.
“O documento da contribuição brasileira quer considerar as hidrelétricas como fontes renováveis e, portanto, geradoras de emprego verde. Isso é falso. As hidrelétricas são sujas. Sujas e caras. E a Amazônia não pode ter hidrelétricas. A região tem baixa declividade em seus rios. Na hora que estiverem prontas, a inundação de uma área é muito grande devido às barragens. Afetará populações indígenas, ribeirinhas, áreas protegidas, espécies muitas vezes endêmicas de fauna e flora, prejudicará a navegação. Não dá pra deixar que uma mentira contada mil vezes se torne uma verdade”, disse o procurador federal, um dos maiores combatentes das obras das hidrelétricas de Belo Monte, no Pará,em entrevista ao jornal A CRÍTICA.
Metano
Felício Pontes Júnior foi um dos palestrantes do debate desta terça-feira (19) sobre hidrelétricas na Amazônia ocorrida durante a programação da Cúpula dos Povos, evento paralelo a Rio+20, que acontece no Aterro do Flamengo.
O procurador citou como exemplo de impacto ambiental o que ocorreu no Amazonas, com a construção da Hidrelétrica de Balbina. “Pesquisadores descobriram que Balbina emite metano, um gás 25 vezes maior poderoso que o gás carbônico. Como isto pode ser chamado de limpa?
STF
Falando a uma pequena plateia, que foi crescendo à medida que sua participação ia ficando mais contundente, o procurador federal também informou que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve analisar ainda neste semestre a liminar que exigirá que o governo brasileiro consulte os povos indígenas para a construção da hidrelétrica de Belo Monte.
Se o recurso do MPF for acatado pelo STF, a decisão se aplicará a outros empreendimentos semelhantes na região, como os que já estão sendo iniciados na calha do Tapajós, entre Pará e Mato Grosso, e até mesmo a projetos que ainda estão em fase de inventários e estudos de viabilidade econômica.
“Um dos 15 processos que o MPF move contra o governo questiona que os índios não foram consultados previamente por estes projetos pelos quais serão atingidos. Isso viola a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, sobre direitos dos povos indígenas, e o artigo 231 da Constituição Federal do Brasil. Entramos com uma liminar na justiça federal, que depois foi cassada. Agora, deve entrar no Supremo. Isso é importantíssimo para nós. Era isso que queríamos, porque vai ser a primeira vez que o Supremo vai se manifestar sobre esta matéria. Ele é obrigado. Vai dizer que vale o que está na Constituição ou não. Esperamos que sim. E a decisão deverá ser assimilada Poe outros tribunais. Valerá para todos”, disse o procurador.
Felício Pontes Júnior lembrou que estudos apontam a construção de 151 hidrelétricas na Amazônia. Destes empreendimentos, metade afeta territórios indígenas.
Belo Monte já foi denunciada a dois organismos internacionais e o MPF quer que o governo brasileiro seja julgado na Corte Interamericana. Os dois organismos, a OIT e a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), reconheceram que o empreendimento viola os direitos dos povos indígenas e dos povos tradicionais do entorno da região, salientou o procurador.
Petição
Uma petição assinada por 350 mil assinaturas de cidadãos franceses será entregue nesta quarta-feira por lideranças indígenas afetadas pelas obras de Belo Monte ao presidente francês François Hollande, que participará da Rio+20. Os debates entre os chefes de Estado começam oficialmente nesta quarta (20).
A petição francesa foi uma mobilização de vários apoiadores dos grupos que combatem Belo Monte, incluindo um indígena tikuna, nascido no Amazonas, Hildon Tikuna, que mora na França há sete anos e que participa da Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro. A tentativa de pressão junto ao presidente francês ocorre porque duas empresas daquele país, a Alstom e a GDF Suez, fazem parte do consórcio de construção das obras da hidrelética.
A intenção dos indígenas é que o documento seja entregue pelo cacique caiapó Raoni, principal liderança dos povos atingidos pelas barragens do Xingu. Raoni foi uma das “estrelas” desta terça-feira na Cúpula dos Povos. Após discursar no debate sobre a hidrelética, ele saiu em uma pequena passeata pelos corredores do Aterro do Flamengo. Era também um dos mais assediados pelos visitantes do evento.
FONTE : A Crítica
Brasil pode encontrar outras fontes de energia mais inteligente
e muito mais ecológica do que as barragens .. e mais respeitoso
com os primeiros povos…Como solar, vento, vento offshore, ….
Que estratégia do governo!!! Mais uma vez, Felicio Pontes Jr.colocando água limpa no copo!!! Ainda bem!!! Sociedade precisa se manifestar cada vez mais!
Todos os esforços para prevervar a Amazonia e a população nativa da região, devem ser realizados, para a sobrevivencia do planete e proteção aos povos indigenas que são os donos oficiais da região.Os interesses econonomicos das grandes industriais e do governo, não visa qualquer beneficio, para a humanidade, mas sim paraincharem suas contas bancarias no exterior.