MT – Tecnologias em sistemas integrados são apresentadas em dia de campo da Embrapa

Alerta feito durante o evento foi em relação ao pau-de-balsa. A espécie, nativa da Amazônia Central, já tem quase 8.000 hectares plantados em Mato Grosso, porém ainda enfrenta um gargalo de mercado.

Experimento de pau-balsa em Guarantã do Norte em 2012 – EMBRAPA

Resultados e tecnologias disponíveis para sistemas integrados de produção agropecuária foram apresentadas a produtores, técnicos, estudantes e professores durante o 6º Dia de Campo da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta no Bioma Amazônico, realizado no último sábado, na fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte. O evento foi promovido pela Embrapa, em parceria com a Famato e Fortuna Nutrição Animal.

A programação contou com palestras técnicas e estações de campo, montadas em meio à área onde está instalado um experimento de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) conduzido com auxílio técnico de pesquisadores da Embrapa, professores da UFMT e da Unemat, além de técnicos parceiros. Na fazenda, de propriedade de Mauro Wolf, a iLPF está em seu quatro ano agrícola e conta com animais de corte pastejando entre espécies florestais como eucalipto, teca, pinho-cuiabano (paricá) e pau-de-balsa.

Após a abertura, o economista do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca, fez uma apresentação sobre as tendências e perspectivas para o mercado da bovinocultura. Já o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Flávio Wruck, fez uma breve explicação sobre a iLPF instalada na propriedade. Na sequência, os participantes iniciaram um ciclo em quatro estações temáticas, onde foram discutidas questões referentes à integração de sistemas, como desempenho do milho safrinha, nutrição de bovinos de corte, consórcio milho com braquiária, adubação de pastagens, desempenho do componente florestal na iLPF, perspectivas para o mercado florestal e cultivo e mercado do pau-de-balsa.

Segundo o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Alexandre Ferreira, é necessário que os produtores se conscientizem sobre a importância de se pensar a produção como um sistema. Ao falar sobre o consórcio do milho com a braquiária, ele enfatizou os ganhos sistêmicos em detrimento da pequena perda de produtividade.

“As pessoas falam que não vão produzir o milho consorciado com a braquiária porque a produtividade vai cair 5%. Pode até cair, mas você vai dar um passo para trás para dar dois à frente. Você estará melhorando as características físicas do seu solo, aumentando o aporte de matéria orgânica e, com isso, você terá maior estabilidade de produção. O benefício está no sistema. Fazendo-se um sistema, você terá maior possibilidade de lucro em sua propriedade”, explica o pesquisador.

Componente florestal

Ainda novidade em sistemas integrados de produção, o componente florestal teve grande destaque durante o dia de campo. Além de oferecer aos participantes o mesmo conforto térmico que oferece diariamente aos animais, as árvores representam uma boa possibilidade de lucro para os produtores. De acordo com o professor da Unemat de Alta Floresta, Rubens Rondon, as perspectivas para o mercado da silvicultura são excelentes no Brasil e localmente em Mato Grosso.

Segundo Rondon, a secagem de grãos é a principal consumidora de madeira atualmente no estado e a demanda por matéria prima oriunda de reflorestamento tende a crescer.

“O estado tem um déficit imenso de madeira reflorestada para este fim. Até hoje este déficit está sendo basicamente coberto com uso de madeira de desmatamento, até ilegal muitas vezes. Outra fonte é o aproveitamento de resíduos. Porém, o desmatamento está sendo freado e este resíduo também está cada vez mais escasso. Nós não temos mais abundância de madeira sendo desperdiçada e isto faz com que o reflorestamento tenha de ser feito”, afirma.

Segundo o professor, Mato Grosso tem atualmente cerca de 200 mil hectares de florestas plantadas, sendo que a demanda deve ser em torno de 300 mil hectares. “Daqui a pouco pode comprometer as safras agrícolas, uma vez que pode se ter grande produtividade, mas não ter como secar os grãos”, alerta Rubens Rondon.

Outro alerta feito durante o evento foi em relação ao pau-de-balsa. A espécie, nativa da Amazônia Central, já tem quase 8.000 hectares plantados em Mato Grosso, porém ainda enfrenta um gargalo de mercado.

Em uma das estações, representantes da Cooperativa de Produtores de Pau-de-balsa (Copromab) e o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Maurel Behling, abordaram questões técnicas da espécie de crescimento rápido e madeira leve e algumas aspectos de comercialização do produto.

“A ideia foi contextualizar os produtores sobre o potencial de mercado que existe, sobretudo internacional. Porém, é importante alertar que este mercado ainda não é consolidado e que existe todo um esforço e trabalho para isto”, explica Maurel Behling, que também apresentou resultados agronômicos do primeiro ano de um experimento com pau-de-balsa realizado em Guarantã do Norte.

Aula a céu aberto

Este foi o sexto dia de campo da integração Lavoura-Pecuária-Floresta realizado na Fazenda Gamada. Segundo o proprietário, o balanço do trabalho feito até então tem sido positivo, com ganhos financeiros reais. Além disso, Mauro Wolf destaca a possibilidade de abrir as porteiras para levar conhecimento e informação aos visitantes.

“O conhecimento é muito importante e o que a gente percebe, é que o produtor demora um pouco para assimilar as novas tecnologias. Temos de trazer o produtor e fazer de uma maneira que ele consiga assimilar e trazer a tecnologia para dentro de sua propriedade. Às vezes, com pouca coisa, mudando um pouco de manejo, com investimento só de conhecimento, ele consegue ter um incremento muito grande na produção”, afirma.

Nesta edição do evento, cerca de 80 alunos da UFMT de Sinop se deslocaram 230 km para participar. Para um dos professores responsáveis pelo grupo, Eduardo Morais, esta é uma oportunidade ímpar de aprendizado em campo.

“Hoje em dia dificilmente as instituições de ensino dispõe de área grande para trabalhar, principalmente com espécies florestais, que demandam muito tempo para o crescimento. Isto aqui na verdade não é um sábado a menos na vida de um estudante e sim um sábado a mais. Aqui ele tem a oportunidade de verificar em campo como está o funcionamento da iLPF, que ainda tem muito a ser trabalhado. Aqui estamos vendo na prática o que está sendo feito e os potenciais de resposta”, afirma o professor Eduardo.

Dia de campo em Santa Carmem

Neste sábado, dia 19, será a vez da fazenda Dona Isabina, em Santa Carmem sediar um dia de campo sobre integração lavoura-pecuária-floresta. O evento terá início às 7h30 e destacará, entre outras questões ligadas à iLPF, a produção do feijoeiro comum, do milho safrinha e os fatores limitantes da produtividade de soja na safra 2011/2012.

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