RR – POVOS INDÍGENAS – Entidades discutem mudanças climáticas

Com apoio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), lideranças indígenas de Roraima e Amazonas estão no Lago Caracaranã, no Município de Normandia, a 172 Km de Boa Vista, em uma discussão para apresentar propostas para as comunidades enfrentarem as mudanças climáticas. O I Encontro Regional para a Construção de Bases para um Plano Indígena de Enfrentamento às Mudanças Climáticas é promovido pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). O evento encerra-se hoje.

Desde quarta-feira, os participantes trocam experiências de vida em suas comunidades com a finalidade de apontar estratégias para construir um plano de enfrentamento das mudanças climáticas. Conforme a representante da Coiab, Sônia Guajajara, o encontro com esse tema será realizado em todos os nove Estados da Amazônia brasileira em três etapas.

Depois de Roraima e Amazonas, será realizado em julho no Acre – reunindo ainda lideranças de Rondônia e Mato Grosso – e em agosto no Pará – reunindo representantes também do Maranhão, Tocantins e Amapá.  Cada região irá apresentar suas estratégias para construir um plano regional de enfrentamento.

Assim, como deve ocorre hoje no encerramento do evento no Lago Caracaranã, os documentos de todos os demais encontros serão reunidos numa proposta geral dos povos indígenas da Amazônia brasileira a ser enviada para a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFFCC), a qual reconhece a necessidade de modificar substancialmente o comportamento das sociedades, já que a base econômica e produtiva atual depende de atividades industriais e de transportes que emitem gases de efeito estufa.

Os representantes indígenas fizeram uma avaliação e refletiram sobre quais os impactos das mudanças climáticas percebidos em suas comunidades e região, além de relatarem como as populações estão se adaptando às mudanças climáticas. No Amazonas, que enfrenta uma das maiores cheias, as lideranças disseram que os alagamentos ocorriam de quatro em quatro anos, mas agora baixaram para um período de dois anos.

Depois dessa reflexão, eles identificaram o que provoca esses impactos e  identificaram os reflexos do problema, como doenças, queda na qualidade da água, mudanças nos regimes das águas, alterações no calendários de caça, coleta e colheita da produção de subsistência.

De Roraima estarão no evento representantes das 12 etnorregiões: Serra, Raposa, Surumu, Baixo Cotingo, Serra da Lua, Murupu, Taiano, Amajari, São Marcos, Ingaricó e Yanomami. O coordenador-geral do CIR, Mário Nicácio Wapichana, disse que os povos indígenas de Roraima já vinham discutindo o tema “mudanças climáticas” desde o início da década de 2000, inclusive o CIR realizou o Estudo de Mudanças Climáticas na Terra Indígena Jacamim e Serra da Lua, em Bonfim, que serviu de projeto piloto.

“Os povos indígenas são os atores que mais preservam a floresta e o meio ambiente”, disse Mário Nicácio ao explicar que agora chegou o momento de usar os conhecimentos tradicionais para construir bases e planos para enfrentar as mudanças climáticas que afetam todo o planeta.

No encontro, as lideranças aprenderam o que é REDD, siglas que eles passaram a ouvir com frequência a partir de agora. REDD é a sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. Conforme o conceito adotado pela Convenção de Clima da ONU, se refere a um mecanismo que permite a remuneração daqueles que mantém suas florestas em pé, sem desmatar, e com isso evitam as emissões de gases de efeito estufa, associadas ao desmatamento e degradação florestal.

Uma representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Brasília, Tatiana Raque, da Coordenação-Geral de Monitoramento Ambiental, esteve no evento. Ela também se colocou à disposição para responder qualquer questionamento feito pelos indígenas durante o encontro.  Ela disse que o tema mudanças climáticas vem sendo discutido há mais tempo.

Este encontro no Lago Caracaranã servirá também de preparatório para as discussões que o CIR vem fazendo sobre o Acampamento Terra Livre, evento paralelo à Rio+20, que contará com a participação de 2 mil lideranças indígenas no Rio de Janeiro, em junho. Em Roraima devem ir cerca de 30 participantes.

As discussões já vêm ocorrendo desde o início do ano e a culminância dos debates ocorrerá neste fim de semana (dias 28 e 29) na Casa de Cura em Boa Vista, na sede do CIR, no trecho sul da BR-174, no bairro Araceli Souto Maior. Será o momento de definir o que os índios de Roraima vão levar de proposta para o Acampamento Terra Livre.

A Rio+20 ocorrerá de  20 a 22 de junho de 2012 na cidade do Rio de Janeiro. Trata-se da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS, ou UNCSD na sigla em inglês). Essa iniciativa da ONU está também motivando a organização de uma série de eventos e processos de discussão no Brasil e em todo o mundo, que culminarão em um grande conjunto de atividades no período próximo à conferência.

Será um evento de grandes dimensões, e o Governo brasileiro tem declarado a ambição de que seja a maior conferência já realizada pela ONU. A organização do evento espera a presença de mais de uma centena de chefes de Estado ou de Governo. E os povos indígenas junto com movimentos sociais e sem-terra vão promover um evento paralelo, que é o Acampamento Terra Livre. 

FONTE: Folha de Boa Vista

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