Sem presença humana não há sustentabilidade, diz pesquisador da Embrapa

Discutir as dinâmicas produtivas entendidas como “economia verde”, assim como identificar empecilhos e soluções para a aplicabilidade de projetos voltados à área, nortearam os trabalhos do workshop “Ciência, Tecnologia e Inovação na Amazônia no contexto da economia verde: situação atual e desafios”. O evento é uma parceria do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), e aconteceu no auditório da Escola Superior da Magistratura do Acre-ESMAC, em Rio Branco.

 
O evento contou a participação de diversas instituições ligadas à pesquisa, meio ambiente, economia, ciência e tecnologia, com palestras de representantes de seis órgãos: Instituto de Mudanças Climáticas (IMC), Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), Universidade Federal do Acre (Ufac), Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) e Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).
 
De forma geral, os palestrantes apontaram a “economia verde” como uma visão renovada do  desenvolvimento sustentável e afirmaram que para alcançar tal desenvolvimento é preciso considerar o fator humano. Ou seja, para eles, está superada a ideia de que para preservar é necessário única e exclusivamente manter a floresta intocada. “Não pode haver sustentabilidade sem a presença humana porque o homem faz parte da natureza”, observou Jhudson Valentim, chefe geral da Embrapa no Acre.
 
Um exemplo de projeto desenvolvido dentro do modelo da economia verde, destacado pelo diretor presidente da Funtac, Luiz Augusto Azevedo, foi a fábrica de preservativos masculinos produzidos a partir de látex de seringal nativo, localizada no município de Xapuri. 
 
A fábrica, que contou com recursos da Suframa, tem capacidade produtiva de 100 milhões de unidades ao ano e  consome até 500 toneladas de látex anualmente, beneficiando 700 famílias que atuam na extração da matéria-prima na reserva Chico Mendes. Toda a produção destina-se ao Ministério da Saúde.
 
Os palestrantes também exibiram projetos que demonstram como o Acre está conseguindo lidar com dois grandes vilões do desmatamento da Amazônia: a pecuária e o setor madeireiro. Na pecuária, eles conseguiram otimizar o tempo e o espaço da produção, aumentando os lucros e minimizando os impactos ambientais. No setor madeireiro, o Estado conta com 95% da madeira produzida certificada,  com origem de projetos bem sucedidos de manejo florestal.
 
O professor do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas da Ufac, Raimundo Cláudio Maciel, apontou que um dos fatores que contribuem para a degradação ambiental é um erro de cálculo econômico. Ele defende a aplicação de uma fórmula, criada por ele, pela qual as atividades econômicas de origem sustentável sejam mais rentáveis frente às atividades exploradoras, que prejudicam o meio ambiente. 
 
Como exemplo, ele cita o seringueiro, que protege a floresta, e recebe um valor irrisório no preço final de seu produto – o látex – porque nele não está embutido o ganho social da preservação. Já o pecuarista, que não é punido monetariamente por produzir uma atividade exploratória, vende seu produto final a um preço mais lucrativo.
 
Uma das principais reivindicações manifestada pelos palestrantes é o destino insuficiente de recursos para o desenvolvimento em Ciência e Tecnologia na região. “Assim como há cotas de afirmação (vagas destinadas a negros e indígenas, por exemplo), deveria haver mais recursos destinados à nossa região, já que a Amazônia Legal representa 60% do território brasileiro e contém mais de 21 milhões de habitantes”, observa Jhudson Valentim.
 
Os organizadores do evento consideram que o Acre está avançado no que diz respeito à implantação de projetos  relacionados à economia verde. “O Acre conta com o diferencial de ter enxergado a floresta como um ativo econômico, social e ambiental, e que se tornou política de estado ao longo dos anos”, disse o assessor especial da Suframa, Elilde Menezes.
 
O workshop, que já passou pelos estados de Roraima e Rondônia, segue agora para o Amazonas, no próximo dia 02 de maio. O resultado das discussões estaduais servirá de subsídio para a realização do Fórum Científico, com tema “Economia verde na Amazônia: da agenda prática ao desafio do conhecimento”, a ser realizado em junho, no Rio de Janeiro e que deverá ser encaminhado em forma de carta como contribuição da região à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20.
 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *