Energia no Brasil é limpa, mas cara e desperdiçada, diz físico da UFRJ

Apesar de mais limpa, a energia no Brasil é muito mais cara e desperdiçada que em outros países, disse nesta sexta-feira (15) o físico Luiz Pinguelli Rosa, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), durante a 63ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia.

Professor Luiz Pinguelli Rosa, da UFRJ, fala sobre energia e hidrelétricas durante a SBPC

As energias renováveis e os biocombustíveis respondem por 45% do total usado no território nacional, contra 10% no restante do mundo e 5% nas nações ricas, que apostam principalmente no carvão, óleo e gás natural. Porém, no Brasil, há muita fuga de energia durante a distribuição e mau aproveitamento final.

“A usina de Itaipu [no Paraná] fica a 1.000 km de Minas Gerais, São Paulo e Rio, e há perdas nesse caminho”, afirmou Pinguelli Rosa. Sobre o uso indevido da eletricidade, ele citou grandes empreendimentos, como shopping centers da capital paulista, que consomem a quantidade de energia de uma cidade de 100 mil habitantes.

Além disso, o diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da UFRJ mencionou o alto custo da eletricidade no país.

“O consumidor final paga cerca de R$ 400 por megawatt/hora. A energia é cara demais, seja para as famílias ou empresas menores. Só é barata para o grande consumidor, que faz contratos diretos com os fornecedores e não paga tarifas”, afirmou. Segundo Pinguelli Rosa, a tarifa energética brasileira é comparada a países ricos e também aos essencialmente termelétricos, como o Japão.

Mesmo assim, ele fez uma comparação das diferentes matrizes energéticas e apontou a hidrelétrica como a forma mais barata de geração de energia.

O físico afirmou que, enquanto uma termelétrica custa, em média, R$ 140 por megawatt/hora, valor equivalente ao das usinas eólicas, o megawatt/hora gerado por uma hidrelétrica é de R$ 68.

Caso à parte é o projeto da usina de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, cujo preço será de US$ 1.000 por kilowatt instalado. Mas, para Pinguelli, a hidrelétrica tem a vantagem de durar muitos anos e produzir uma quantidade de energia até 200 vezes maior que a empregada na construção da obra.

Belo Monte
Sobre o projeto da usina hidrelétrica no Xingu, o professor da UFRJ disse que falta o governo chegar a um acordo com a sociedade sobre os termos do que fazer ou não. “É um problema mal resolvido”, destacou.

Pinguelli ressaltou que o Brasil não coloca mais em execução grandes reservatórios. Hoje, são feitas hidrelétricas “a fios d’água”, ou seja, o reservatório é mínimo. Por isso, na opinião dele, o país vem complementando essa geração com termelétricas, que são caras e poluentes.

“A inundação de Belo Monte será de 500 km², menor que em Itaipu, e haverá uma geração de 20 watts por m². Na região da Volta Grande do Xingu, será mantido o nível mínimo para atender à população indígena”, disse.

A previsão de gastos do governo para Belo Monte é de R$ 20 bilhões. A capacidade máxima será de 11 gigawatts de potência, mas ela vai operar com 42% do total, o equivalente a 4,6 gigawatts. A média, no Brasil, é um pouco acima de 50%, enquanto os EUA trabalham com 46%, Japão e França com 35% e Espanha com 21%.

“Ainda usamos muito pouco os recursos do país. Os EUA e a China têm muito menos e estão em uma posição acima nessa área”, comparou.

Outra necessidade, na opinião do professor da UFRJ, é modernizar o grupo Eletrobras, como foi feito com a Petrobras. “A política atual é que a Eletrobras seja sempre minoritária, e acho isso um erro. É a maior empresa elétrica do Brasil e deveria ser a controladora desses grandes empreendimentos”, afirmou.

Prós e contras
Em outro debate na SBPC sobre a execução de Belo Monte, o diretor de engenharia e construção da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), José Ailton de Lima, disse que o grande desafio do país é garantir energia elétrica em todos os locais, com o melhor preço.

De acordo com o diretor da Chesf, o Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, na Bahia, era um “campo de batalha” há 50 anos. “A região se transformou com os projetos de hidrelétricas. Não quer dizer que não houve dor nem sofrimento, nem que não vai haver. Não vamos tirar ninguém à força, mas dentro da legalidade”, afirmou Lima.

Já o professor Alfredo Wagner de Almeida, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ressaltou que os problemas sociais estão no centro dessas obras. “Não concordo que o Vale do São Francisco seja uma maravilha. O que temos lá são terras tradicionalmente ocupadas, povos que têm esse direito. Não são unidades de conservação”, apontou.

Ele comentou que o desejo desses povos é se recolocar na sociedade. “Há muito tempo, eles são levados a sair de onde estão. O que se precisa é dar condições a esses índios para que eles façam a própria defesa”, propôs. Almeida concluiu que o modelo energético brasileiro é que precisa ser mudado.

Fonte: G1