Estudo revela a rica diversidade das serpentes nas Américas

Tendo por base coleções científicas diversas e os acervos de museus de história natural, pesquisadores organizam uma extensa base de dados e um quadro mais completo da riqueza da fauna das serpentes neotropicais. A base de dados internacional reúne informações coletadas desde o século XIX e evidencia a importância de áreas abertas, como o Cerrado e a Caatinga, e a necessidade de ampliar o conhecimento sobre a Amazônia.

Dados provenientes de 27 países, com testemunhos preservados em museus de história e coleções científicas diversas, permitiram recompor informações sobre 886 espécies de um grupo animal presente nas culturas ao redor do mundo desde o início da história da humanidade na Terra – as serpentes. O desafio foi realizado por um time internacional de especialistas do Brasil, Alemanha, Austrália, Equador, Estados Unidos e Suécia. Eles organizaram informações antigas e recentes sobre as serpentes das Américas do Sul e Central, Caribe e o sul do México e Flórida (EUA). O estudo foi publicado na revista Global Ecology and Biogeography.

Em torno de 10.500 espécies de répteis são encontradas ao redor do mundo e cerca de 150 a 200 novas espécies são descobertas a cada ano. As serpentes constituem aproximadamente 34% desse grupo de animais. Pela primeira vez, os pesquisadores organizaram em um mesmo banco de dados fatores como: registros coletados, padrões detalhados de distribuição e frequência de ocorrência de 147.515 indivíduos, pertencentes a 886 espécies distribuídas em 12 famílias. Os dados reunidos servirão de base para a aplicação de conceitos de conservação, formulação de modelos de biodiversidade e evolução, e também para elaborar agendas de pesquisa na área da herpetologia.

Brasil – A análise dos dados sobre o Brasil, mostraram que as espécies de serpentes de áreas abertas como o Cerrado e Caatinga são altamente diversas, e evidenciaram uma enorme lacuna de informação – a Amazônia. O vazio de informação na região é alterado onde existem instituições de pesquisas sólidas, como é caso do sesquicentenário Museu Paraense Emílio Goeldi. Atualmente, a coleção do Goeldi inclui cerca de 100 mil indivíduos ou espécimes representantes, principamente, na Amazônia brasileira. Esse número cresce cerca de 10% ao ano.

O Brasil é um dos países da região Neotropical que registra a maior diversidade de répteis – até agora, por exemplo,  a ciência já identificou 392 espécies de serpentes (147 na Amazônia), 266 espécies de lagartos, 73 de anfisbenas, 36 de quelônios e seis espécies de jacarés.

“Assumimos que ainda existem muitas espécies de serpentes que não conhecemos. Entretanto, a identificação de áreas pobremente amostradas, onde provavelmente novas espécies podem ser encontradas, deve vir de uma síntese de dados e mapeamento do que já conhecemos em termos de espécies e das áreas nas quais temos amostras consideráveis”, ressalta Dra. Thaís Guedes, da Universidade de Gotemburgo (Suécia), autora principal do artigo 

Curadora da Coleção de Herpetologia do Museu Goeldi e uma das autoras do estudo, Dra. Ana Prudente, destaca que a escassez de dados na Amazônia é resultado de um conjunto de fatores, como: baixos investimentos em pesquisa no bioma, dificuldades de acesso das áreas que precisam ser amostradas e falta de especialistas para estudar essa enorme área.

Parceria internacional – O grupo de cientistas coletou dados de todas as serpentes neotropicais para registrar a diversidade das espécies, sua distribuição e suas ameaças na região Neotropical. O enorme conjunto de informações é resultado de uma fusão de dados coletados por vários taxonomistas ao longo de, pelo menos, 150 anos. “Publicamos um dos maiores e mais detalhados levantamentos sobre a distribuição de serpentes. Um grande avanço no conhecimento de um dos grupos de répteis mais ricos em espécies do mundo!”, festeja o Dr. Alexandre Antonelli, da Universidade de Gotemburgo.

Dr. Martin Jansen, do Senckenberg Research Institute Frankfurt (Alemanha), chama a atenção para a qualidade dos dados, que passaram por uma rigorosa revisão taxonomica. “A revisão aumentou bastante a qualidade dos dados. Pode-se dizer que o banco de dados agora tem uma espécie de marca de qualidade. Isto é muito importante, já que os estudos com modelelagem da biodiversidade muitas vezes não trazem essa experiência taxonômica profunda”, afirma Jansen.

Proteção – Os resultados dessa base de dados mais abrangente e inovadora também destacam a necessidade de melhor amostra, exploração científica e proteção de áreas de alta diversidade, assim como de espécies raras. Segundo Thaís Guedes, as áreas abertas do Brasil, como o Cerrado e a Caatinga, sempre foram negligenciadas de várias formas incluindo o fato de que recebiam menos incentivo à pesquisa e eram pouco contempladas em ações de conservação. Contudo, estudos recentes e esse novo mapeamento mostraram, que essas áreas são altamente diversas e tem papel importante na composição da biodiversidade brasileira. 

O conhecimento da distribuição das espécies também fornece informações que podem ser aplicadas a outras áreas da biologia, como por exemplo na reprodução animal, ressalta Dr. Henrique Braz, da Universidade de Sidney (Austrália). “Em uma região tão ampla e de clima diverso como é a região Neotropical uma mesma espécie com ampla distribuição pode apresentar estratégias reprodutivas distintas de acordo com os ambientes que ocupam. Dados de distribuição associados a dados reprodutivos são uma excelente ferramenta em estratégias de conservação”, complementa Braz.

 

Texto: Universidade de Gotemburgo com colaboração da Agência Museu Goeldi.

Agência Museu Goeldi

 

 

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