Zerar o desmatamento não impacta economia nacional

Em estados de fronteira agrícola, como Mato Grosso e Pará, pequenas perdas podem ser compensadas com instrumentos políticos existentes e pequenos ganhos de produtividade.    

Acabar com o desmatamento no Brasil e, consequentemente, com a expansão da fronteira agrícola, teria um impacto praticamente nulo social e economicamente no país. Estados com maior participação da agropecuária em sua economia ou com grandes estoques de terra onde é possível desmatar legalmente, como Pará e Mato Grosso, teriam uma redução do PIB mais intensa. Isso acontece, principalmente, por conta de perdas de áreas de pastagens. Esse é o principal resultado do estudo recém-lançado Qual o Impacto do desmatamento zero no Brasil?, idealizado e coordenado pelo Instituto Escolhas, e realizado a partir de parceria com pesquisadores do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

“Os dados mostram, porém, que ganhos adicionais moderados a pequenos de produtividade compensariam o efeito negativo nesses estados. Taxas históricas observadas indicam que esses ganhos seriam possíveis e provavelmente estão em curso. Além disso, essas assimetrias também poderiam ser corrigidas por instrumentos de políticas públicas já existentes, como o Fundo de Participação dos Estados”, diz Sergio Leitão, diretor executivo do Escolhas.

Segundo o estudo, se todo o desmatamento – e a consequente expansão da fronteira agrícola – no Brasil acabasse imediatamente, seja legal ou ilegal, incluindo terras públicas e privadas, haveria uma redução de apenas 0,62% do PIB acumulado entre 2016 e 2030, o que corresponderia a uma diminuição do PIB de R$ 46 bilhões em 15 anos, ou R$ 3,1 bilhões por ano.

Nesse cenário, chamado DZAbs, apesar do desmatamento projetado ser maior no Pará, Mato Grosso teria uma perda de PIB relativamente maior, o que se reflete nos demais itens analisados (consumo das famílias, emprego e salário).  No Pará, a perda de PIB seria de 2,05% e, no Mato Grosso, de 3,17%. Isso acontece porque a pecuária (corte e leite) representa uma parcela maior do valor total da produção em 2016 (5,4%) em Mato Grosso do que no Pará (4,2%). Além disso, o setor de mineração (que se beneficiaria com as exportações, a partir da desvalorização do real causada com o fim do desmatamento) também é relativamente maior no Pará (10,6% do valor total da produção do estado em 2016), em comparação com Mato Grosso (0,4%).

No segundo cenário projetado pelo estudo do Escolhas (no qual o desmatamento público é zero em 2030 e o desmatamento privado em áreas permitidas continua apenas sobre os estoques de elevada aptidão agrícola, chamado DZ2), contudo, o resultado se inverte: a perda de PIB é maior no estado que tem maior desmatamento (1,35% no Pará e 0,91% no Mato Grosso). O que acontece é que o desmatamento é maior, em termos relativos, no Pará do que em Mato Grosso. Enquanto no DZAbs a relação desmatamento no Pará/Mato Grosso é de 1,2, no DZ2, essa relação é de 2,8. Isso significa que ainda há mais terras disponíveis de alta e muito alta aptidão agrícola em Mato Grosso do que no Pará.

O estudo simulou, ainda, um terceiro cenário (DZ3), no qual o desmatamento público continua zero em 2030, mas o desmatamento privado acontece sobre todos os estoques permitidos independentemente da aptidão agrícola. Nesse cenário, as perdas seriam ainda mais baixas nos dois estados (0,23% no Pará e 0,14% no Mato Grosso).

O diretor do Escolhas explica, ainda, que o estudo adotou uma abordagem de modelagem e parametrização conservadora, cujo objetivo foi acentuar os impactos negativos do fim do desmatamento sobre a economia. “Com isso, esses resultados representam uma análise bastante próxima do impacto potencial máximo, e por isso improvável, do fim do desmatamento sobre a economia nacional e dos estados. As simulações não consideraram, por exemplo, os impactos de um pequeno aumento da produtividade da pecuária, que são importantes, mas ainda não são numericamente detectáveis”, diz Leitão. 

Maura Campanili 

FONTE: INSTITUTO ESCOLHAS

 

 

 

 

 

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