Hidrelétricas e o IPCC: 7 – Reservatórios como “áreas úmidas”

O IPCC classifica os reservatórios como “áreas úmidas” (“wetlands“), mas uma revisão da seção de áreas úmidas das diretrizes (“guidelines”) de 2006 do IPCC [1] realizada entre 2011 e 2013 excluiu explicitamente da revisão a parte sobre emissões de reservatórios ([2], p. O.4).

Os autores foram instruídos que: “terras alagadas (reservatórios) são especificamente excluídas sendo que a TFI [força tarefa sobre inventários nacionais de gases de efeito estufa] não considera a ciência subjacente a ser suficientemente desenvolvida” ([3], p. 3). Esta posição significa que, na prática, as emissões de hidrelétricas continuarão sendo consideradas como zero ou próximo de zero, apesar de evidências substanciais de que barragens tropicais emitem quantidades significativas de gases de efeito estufa (e.g., [4-8]). Embora as estimativas das quantidades emitidas sejam sujeitas à incerteza, como é o caso para todas as formas de emissão, a resposta apropriada é de usar os melhores dados científicos disponíveis em cada ponto no tempo.

Se uma posição conservadora é desejada para a formulação de políticas sobre mudança climática, isso significaria usar valores do lado alto das estimativas disponíveis, e não, essencialmente, atribuir um valor de zero para esta fonte.

Como o metano foi relegado a um apêndice nas diretrizes, relatar essas emissões continuará sendo algo voluntário, mesmo após estas diretrizes ter entrado em vigor em 2015 [9]. O resultado será, provavelmente, que as emissões de hidrelétricas tropicais permanecem praticamente ausentes das contas globais [10].

 Philip Martin Fearnside

Philip M. Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 500 publicações científicas e mais de 200 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis neste link

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